O dialeto carioca é uma variação linguística do português brasileiro, típica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e de outras cidades do Interior Fluminense. Por causa do longo tempo em que a cidade do Rio de Janeiro permaneceu como capital do Brasil, o estudo do dialeto carioca começou com a obra do filólogo Antenor Nascentes, O Linguajar Carioca, em 1922.[1]
Índice
1 Influências
2 Recepção
3 Fonética
4 Índices de segunda pessoa
5 Ver também
6 Referências
7 Bibliografia
Influências
O sotaque carioca apresenta algumas semelhanças com o português lusitano. Entre tais semelhanças, percebe-se a pronúncia do "s" chiado e as vogais abertas em palavras como "também", características comuns em ambos. Isso é creditado, ao menos parcialmente, a fatores históricos como a vinda da Família Real Portuguesa, que quando de sua chegada ao Rio de Janeiro trouxe uma população de cerca de 15 mil portugueses, entre membros da corte e seus serviçais,[2] alterando a demografia da cidade que até então contava apenas com 23 mil pessoas (sendo a maioria dessa população composta escravos africanos).[3]
Tal presença de uma grande quantidade de escravos e cidadãos de origem africana gerou também outra forte influência percebida no sotaque carioca, que são os dialetos africanos, falados pelos escravos que compunham a maioria da população carioca durante o período colonial e até o final do Império. Entre tais influências, nota-se por exemplo a Palatalização do /d/ e /t/ para as africadas palato-alveolares [d͡ʒ] e [t͡ʃ] quando antes de /i/ e a pronúncia pesadamente africanizada do s, em que os sons de s e z apresentam pronúncia palatizada quando não seguidos de vogal ou outra consoante fricativa alveolar.
Compartilha com o dialeto fluminense a tendência eventual de reduzir as vogais /e/ e /o/ para /i/ e /u/ quando átonas, um ritmo acentual de fala (sílabas átonas de menor duração que as tônicas) e palatalização da s e z em fim de sílaba (mesmos /mejʒmuʃ/).
Recepção
O dialeto carioca embora tenha grande projeção no Brasil, é visto pela maioria da população brasileira como uma forma incorreta de pronúncia do português falado no Brasil, e possui uma das menores aceitações entre os dialetos locais brasileiros, conforme apontam pesquisas realizadas pela pesquisadora Jania Ramos, do Departamento de Linguística da Universidade Federal de Minas Gerais.[4]
Nessa pesquisa, a linguista aponta que a aceitação do sotaque carioca pela população em geral apresentou queda com relação aos números apresentados em pesquisas anteriores realizadas em 1979 pela também linguista Maria José de Almeida, indicando que a perda do status de capital tenha auxiliado a afetar a percepção do sotaque em nível nacional.[5]
Fonética
O dialeto carioca é marcado pelas seguintes características fonéticas e fonológicas:
Palatalização do /d/ e /t/ para as africadas palato-alveolares [d͡ʒ] e [t͡ʃ] quando antes de /i/.
Exemplos: <dia> [ˈd͡ʒiɐ]; <antigamente> [ɐ̃ˌt͡ʃiɡaˈmẽt͡ʃɪ].
A sibilante coda é realizada como uma fricativa palatoalveolar surda [ʃ] quando antecede consoantes surdas ou quanto está na posição pré pausa, mas é sonorizada para [ʒ] ao anteceder uma consoante sonora, na mesma palavra ou com sândi, e varia para [z] quando está com sândi com uma vogal.[6]
Exemplos: <bons amigos> [ˌbõzaˈmigʊʃ]; <bons dias> [bõʒˈd͡ʒiɐʃ].
O r em coda, que era pronunciado como uma vibrante simples alveolar, sofreu variações históricas, passando a ser pronunciado como uma vibrante múltipla alveolar, depois uvular, passou a ser uma fricativa surda e também pode ser articulado no véu palatino, mas não é sonorizado nem quando antecede uma consoante sonora, por exemplo, mar morto é pronunciado como *[maɣˈmoxtʊ]. Esta variação está sujeita a sândi quando antes de vogais, ainda sendo pronunciada como uma vibrante simples, mais precisamente como um tepe.[7]
Exemplos: <amor eterno> [aˌmoɾeˈtɛxnʊ]; <árvore> [ˈaxvoɾɪ]; <arco> [ˈaxkʊ].
A pronúncia fortemente africanizada do s, na qual os sons de s e z tornam-se palatizados quando não seguidos de vogal ou outra consoante fricativa alveolar.
O l em coda, que era pronunciado como uma aproximante lateral alveolar velarizada [ɫ], foi labializado [lʷ], e depois semivocalizado [w].[7]
Exemplos: <mal> [maw]; <alguém> [awˈgẽȷ̃]; <azul> [aˈzuw]
A realização ditongada das vogais, exceto /a/, em certos contextos prosódicos.[8]
Exemplos: <amiga> [aˈmiɐ̯gɐ]; <maneiro> [maˈneə̯ɾʊ]; <agora> [aˈgɔɐ̯ɾɐ]
Índices de segunda pessoa
No nível gramatical, o dialeto carioca possui também algumas especificidades, em especial quanto aos índices de segunda pessoa.
No dialeto carioca, tem havido um ressurgimento do uso de tu como índice de segunda pessoa, ao lado do índice mais comum no Brasil, você. Esse uso acontece principalmente entre homens jovens (com menos de 30 anos), no contexto de discurso informal e como marca enfática (uma vez que você é tido como forma não-marcada).[9][10]
O dialeto brasiliense, ou candango[1], é um dialeto do português brasileiro, que tem como região geográfica falante a cidade de Brasília e também a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno.[2][3][4]
Este dialeto é resultante dos fluxos migratórios ocorridos a partir de 1955, quando se iniciou a construção da nova capital.[3] Esses fluxos de migrantes trouxeram para a capital brasileira várias formas de falar o português (de todo o terrítório brasileiro).[3] A miscigenação de todos os costumes de fala do Brasil criou um dialeto neutro,[5] ou como alguns consideram, o "sotaque branco"[2], por representar em si todas as formas de falar do Brasil.[6]
Índice
1 Gramática
1.1 Índice de segunda pessoa
2 Léxico
3 Referências
Gramática
Índice de segunda pessoa
No dialeto brasiliense, tem havido um ressurgimento do uso de tu como índice de segunda pessoa, ao lado do índice mais comum no Brasil, você. Aquele índice, contudo, só é usado em situações discursivas que conotam solidariedade ou pertencimento a um grupo, principalmente entre adolescentes do sexo masculino das regiões administrativas do Distrito Federal (mas não entre esses adolescentes e as adolescentes do sexo feminino, por exemplo). Em todos os casos, a conjugação segue a terceira pessoa (tu foi, tu disse, etc.).[7]
Léxico
Balão = Rotatória
Bandeirante = Núcleo Bandeirante
Baú = Ônibus
Biscoito = Bolacha
Bloco = Prédio residencial
Camelo = Bicicleta
Candanga = Candangolândia
Careta = Cigarro
Catiar = Zombar
Chegado = Amigo
Colado = Amigo íntimo
Curtir um peso = Ouvir rap ou hip hop
De rocha = Sério, de verdade
Dim-Dim = Chupa-Chupa, geladinho
Eixão = Eixo Rodoviário de Brasília
Eixinho = Vias paralelas ao Eixão
Esparro = Algo ou alguém exagerado
Estriquinado = Maluco
Flor do Cerrado = Torre de TV Digital de Brasília
Gel = Cerveja
Ímpares = Quadras 100, 300, 500, 700 e 900 do Plano Piloto
Lixeiro = Gari
Lombrado = Alucinado
Mandioca = Aipim, macaxeira
Paia = Algo chato, ruim
Pão de Sal = Pão francês
Parada = Parada de ônibus, ponto de ônibus
Pardal = Radar de trânsito
Pares = Quadras 200, 400, 600 e 800 do Plano Piloto
Pedera = Otário
Pegar o beco = Ir embora
Pelejou = Tentou, brigou
Pivete = Menino de rua
Plano = Plano Piloto
Quebra-mola = Lombada
Rodô = Rodoviária do Plano Piloto
Satélite = Cidade-satélite
Semáforo = Sinaleira, Farol
Se pá = Se der certo
Sinal = Sinaleira, Farol
Taguá = Taguatinga
Tesourinha = Trevo
Tesourinha = Retorno feito pela Tesourinha
Torre = Torre de TV de Brasília
Torre Digital = Torre de TV Digital de Brasília
Véi = Vocativo usado entre amigos, "Meu", "Cara", "Mano"
Zebrinha = Micro-ônibus, originalmente com listras verticais nas laterais
Food = Pessoa engraçada ou que faz algo irritante
dialeto da serra amazônica[1], ou como as vezes é chamado, dialeto do arco do desflorestamento, é um dialeto do português brasileiro. É erroneamente considerado com o parte da amazofonia (dialeto nortista).[2][3]
Conhecido na sua região geográfica como "sotaque dos migrantes",[4] não é um dialeto coeso, justamente por sua peculiaridade de formação. Sua característica marcante é a forte pronúncia do "s", de forma semelhante ao paulista, e outras peculiaridades.[5] Diferencia-se do dialeto tradicional amazônida e nordestino, por ter uma pronuncia e vocalização mais próxima do caipira e do sertanejo.[2]
Esse dialeto existe no sudeste do Pará,[6] sudoeste do Maranhão, norte do Mato Grosso, em Rondônia e no atual Tocantins[7] desde meados da década de 1970, quando houve uma imigração desordenada de nordestinos, goianos, sudestinos e sulistas[8] para a região, atraídos pelas ofertas de terras baratas e acessíveis em abundância.[9]
O termo "Serra Amazônica" ou "Amazônico da Serra" foi cunhado pela primeira vez para identificar este dialeto nos trabalhos do I Colóquio de Letras da FPA em 2010.[10]
Léxico
Segue algumas palavras e expressões e o significado delas:[11]
Dialeto da serra amazônica Significado
Broco Sem equilíbrio, fraco
Cê Você
Pão de sal Pão francês
Lapada, panada Pancada ou batida muito forte
Grafite Lapiseira
Ponta de grafite Grafite
Catiroba Pessoa mal-cuidada consigo mesma
Inãn! Expressão de negação, usado no lugar "ah não!"
Mérmã, mermão Redução e junção de "minha irmã/meu irmão"
Estribado,
buiado Que tem muito dinheiro, rico, milionário
Azeite Óleo de coco
Ó Expressão para afirmar ou chamar atenção para algo
Beijú Tapioca
Geladinha Sacolé, chope, din-din
Gongo, matipó Diplópode, Bicho-do-coco
Apelar Perder a paciência rapidamente
Prego Indivíduo inconveniente,
indivíduo que aprende com muita dificuldade
Milho da pipoca,
bicho da pipoca,
mí-dibuiado (milho debulhado) Algo muito bom, legal
Patinha Regador de plantas
Fólio Folia, alegria
Muringa, moringa Recipiente de armazenar água,
Cantil
Rabeta Pequena embarcação motorizada
Enfastiado Sem fome, cansado
Pila Ladrão, assaltante
Melado, mé Cachaça
Cobrão Alguém que dorme muito
O dialeto recifense é uma variação linguística do português brasileiro, típica da Região Metropolitana do Recife e das regiões da Mesorregião da Mata Pernambucana, no estado de Pernambuco.[1][2][3]
Suas características mais marcantes são o chiado, quando os fonemas /s/ e /z/ são pronunciados [ʃ] e [ʒ] em final de sílaba (assim como ocorre no sotaque carioca), e a não palatalização das letras "d" e "t" antes da semivogal /i/ (pronuncia-se "leiti" e não "leitchi"). Esta última característica é compartilhada com o dialeto nordestino, que tem origem no Recife.[4]
Expressões como oxente, oxe, visse e entendesse estão entre os termos mais característicos deste dialeto.[5][6][7] O termo bigu, embora já disseminado em quase todo o Nordeste do Brasil, teve sua origem no Recife[7].
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