quinta-feira, 3 de junho de 2021

Dialetos do português brasileiro (1)

 O dialeto nordestino, também chamado simplesmente de "sotaque nordestino" (ouvir), é a variante da língua portuguesa mais usada nos estados do Nordeste brasileiro, sendo o dialeto com maior número de falantes dessa região, com mais de 53 milhões, sofrendo variações. Segundo a classificação proposta por Antenor Nascentes, esses dialetos, juntamente com os dialetos da costa norte, o dialeto recifense e o dialeto nortista, constituem o chamado português brasileiro setentrional, em comparação com as variantes do português faladas nos demais estados brasileiros. O dialeto nordestino tem raiz no Recife em Pernambuco.[1][2]


O estudo do dialeto nordestino teve como marco a obra de Mário Marroquim, A Língua do Nordeste, 1945.[3]



Índice

1 Variantes

2 Características

2.1 Fonética

2.2 Gramática

2.3 Léxico

3 Referências

Variantes

As principais variantes dialetais (ou sub-dialetos) em que se subdivide o dialeto nordestino são:


Subdialeto do Interior Nordestino: É a forma típica do dialeto nordestino, falada propriamente no interior da maioria do estados da região, caracterizada por não apresentar palatalização nas consoantes /d/ e /t/ antes da vogal /i/ e da semivogal /j/ (mesmo em sílabas finais "de" e "te") e por palatalizar fricativas antes de /d/ (/z/ vira /ʒ/) e /t/ (/s/ vira /ʃ/), e também a mais difundida pelos meios de comunicação quando se trata do Nordeste. Falado nas regiões Agreste e Sertão, possui expressões bem típicas em cada estado. Ocorre na maioria dos estados nordestinos, do Rio Grande do Norte até Sergipe, nas mesorregiões do Nordeste Baiano e do Centro-Norte Baiano (exceto Feira de Santana e entorno, que falam o dialeto baiano) além das microrregiões de Juazeiro e Paulo Afonso na Bahia, e na porção Sul do Ceará (na região da Serra do Pereiro e nas mesorregiões Sul e Centro-Sul, as duas últimas popularmente conhecidas como Cariri).[4]

Subdialeto da Zona da Mata: Ocorre, como o nome mesmo sugere, na região da Zona da Mata, em estados que possuem essa região. Muito parecido com o dialeto interiorano, porém sofre influências dos dialetos de outras regiões do Brasil, e até mesmo de outras variantes dialetais nordestinas. É conhecido pela maneira de falar "mais rápida" que a do interior, além de expressões não existentes no dialeto interiorano. Este sub-dialeto é característico das capitais litorâneas entre Natal e Aracaju (com exceção somente de Recife, sua região metropolitana e a zona da mata pernambucana, que falam o dialeto recifense).[4]

Subdialeto do Meio-Norte: Fala já bastante influenciada pelos dialetos nortista e costa norte, havendo um meio-termo entre a palatalização de fricativas, que pode ser mais fraca ou mais intensa, dependendo da proximidade dos estados que falam essa variante com outras regiões, podendo até não haver nenhuma palatalização de fricativas. Falado nas regiões Sudeste e Sudoeste do estado do Piauí, assim como nas microrregiões Alto Mearim e Grajaú, Chapadas do Alto Itapecuru e Chapadas das Mangabeiras e Gerais de Balsas, todas no estado do Maranhão, além de alcançar também a região do Jalapão, no estado de Tocantins.[4]

Vale ressaltar que os dialetos da costa norte, recifense, baiano, bem como o dialeto da serra amazônica (falado na parte sul-maranhense, excetuando-se a região das Chapadas das Mangabeiras), não são considerados como parte do dialeto nordestino,[4] visto que são classificados como dialetos à parte. Embora popularmente sejam usados como sinônimos as expressões "dialeto nordestino" e "sotaque nordestino", por justamente ser o dialeto mais falado da região, essa definição é um tanto errônea, por não contemplar os demais dialetos falados na mesma, e deve ser evitada o máximo possível, sobretudo, em estudos e artigos científicos sobre o mesmo. Trata-se, na verdade, de um dialeto central na Região Nordeste do Brasil, e os demais dialetos citados anteriormente podem ser considerados "dialetos nordestinos periféricos", que compartilham características semelhantes a este dialeto e parecem ter origem do mesmo, onde as diferenças entre este e os dialetos periféricos se notam porque nestes há introdução de fonemas alófones, diferença na eloquência e contato cultural com outros dialetos.[5]


Características

O dialeto nordestino possui em si muitas características peculiares, tais como:


Fonética

Consoantes


Pronúncia e palatalização de /s/ final e entre consonantes: Como na maioria dos dialetos, a grafia e a pronúncia divergem bastante. No caso desse dialeto isso pode ser notado na pronúncia do /s/ e do /z/, que em palavras antes de certas consoantes é pronunciado como /ʃ/ e /ʒ/, mas em outras como é realmente escrita. De modo geral, a palatalização de fricativas, nesses subdialetos sempre ocorre antes de consoantes alvéolo-dentais (/t/ e /d/, sendo /ʃ/ antes de /t/ e /ʒ/ antes de /d/), mas isso não é uma regra geral, pois em certas regiões dos estados do Maranhão, Piauí e Bahia pode não haver essa palatalização. Essa característica intermediária entre o /s/-/z/ e /ʃ/-/ʒ/ indica um arcaísmo transitório entre o português clássico original de séculos anteriores melhor preservado e o português do século XIX já com maior influência do "chiado" da Galiza que muito influenciou o idioma do norte de Portugal, que sempre enviou mais emigrantes por sua demografia e natalidade maior ao longo do hinterland e vale do Douro. Para se ter uma ideia, há vocábulos na Galiza em que fonemas tais como /x/ (som de "r" aspirado) são substituídos por /ʃ/ literalmente, e em partes do norte de Portugal o fonema /s/ mesmo antecedendo vogais assume o som de /ʃ/ (por exemplo na palavra "seis" que vira [ʃejʃ]), coisa que nem mesmo no dialeto recifense (o único no Nordeste onde os fonemas /ʃ/ e /ʒ/ predomina sobre a forma escrita, inverso portanto ao centro-oeste pernambucano) ocorre. No Nordeste, "busca" se pronuncia ['buskɐ] e "turismo" [tu'ɾizmu]. Mas "astro" se diz [ˈaʃtru] e "desde" [ˈdejʒd̪i/ˈdejʒd].

Uso predominante de oclusivas dentais: Uma característica marcante e curiosa deste dialeto é que assim como certos locais do interior paulista e sulino, esse dialeto também preserva o modo indo-europeu clássico de pronunciar as consoantes "t" e "d" na vogal /i/, que se dá pela pronúncia de oclusivas dentais surdas (/t̪/) e sonoras (/d̪/), ou seja, do modo como é escrito e grafado, ao contrário de dialetos em que não há pronúncia similar ao modo europeu e mesmo estadunidense do "ti" e "di" falados de forma pura e modo original similar ao que ocorria com o proto-indoeuropeu, e, como no português, a vogal "e" final de toda palavra tem sempre som /i/, essa pronúncia de /d/ e /t/ indoeuropeia é preservada também em sílabas finais "de" e "te". Exemplos: "dia" se diz [ˈd̪iɐ] e "noite" se diz [ˈnojt̪i] (diferente de boa parte do português brasileiro, que realizada africadas pós-alveolares sonoras - /dʒ/ e surdas - /tʃ/ antes do som de /i/).

Glotalização do /ʁ/ e substituição por /h/-/ɦ/: Duas características são compartilhadas entre este e os dialetos da costa norte, baiano e recifense: o som da letra "r", onde a fricativa uvular surda (/ʁ/) é substituída. O som de "r", portanto, é bem glotal quando forte, podendo ser surda (/h/) ou sonora (/ɦ/) (nunca aspirado como a fricativa velar surda - /x/, usada no Rio de Janeiro e na língua espanhola), e suave quando fraco (vibrante simples alveolar - /ɾ/), sempre em encontros consonantais e nunca no meio ou fim de sílabas como em dialetos do Centro-Oeste, Sul e Sudeste brasileiros, além de não ser pronunciado no final das sílabas. Geralmente a glotal sonora é usada em encontros consonantais, como em "corda" [ˈkɔɦdɐ], e a glotal surda quando inicia palavras ou no dígrafo "rr", como em "rabo" [ˈhabu] e "barragem" [baˈhaʒẽj].

Presença, ou não, de africadas alveolares em sílabas finais: Também são realizadas africadas apenas alveolares surdas e sonoras (/dz/ e /ts/), sempre no fim das sílabas "des"/"dis" e "tes"/"tis", caracterizadas como uma "palatalização fraca" por diferenciar-se da palatalização ocorrida na maioria dos dialetos brasileiros, pois essa também possui som dental, embora também alveolar (por exemplo: em "partes" ['paɦts] e "amizades" [ɐmi'zadz]); mas essa regra nunca vale pra essas sílabas em começo de palavras (como em "desmantelo" [d̪ɪzmɐ̃ˈtelu]), nem pra sílabas próximas a sílabas tônicas ou palavras monossilábicas tônicas (como em "diz" [ˈd̪iz] e "tesoura" [t̪ɪˈzowɾɐ]); em alguns casos ocorre substituição de /e/ por /ɪ/.

Ditongos crescentes em sílabas pós-tônicas com palatalização facultativa: Dependendo de variações geográficas e de influência de dialetos próximos, em palavras como "prédio" e "pátio", que possuem ditongos crescentes com "di" e "ti" na sua composição, pode haver a pronúncia de africadas pós-alveolares, mas sem ser uma palatalização completa como na maior parte do português brasileiro, sendo pronunciadas muitas vezes [ˈpɾɛdʒu] e [ˈpatʃu], respectivamente. Ainda em ditongos pós-tônicos, palavras como "família" e "alumínio" com "li" e "ni" na sua composição tem palatalização e comumente são ditas [fɐˈmiʎɐ] e [aluˈmĩɲu].

Vogais


Abertura das vogais pré-tônicas: Outra característica marcante deste dialeto (porém, não exclusiva deste) é a abertura das vogais pré-tônicas /e/ e /o/ para /ɛ/ e /ɔ/ (sendo que no dialeto interiorano essa abertura pode variar dependendo da região, havendo o fenômeno da harmonia vocálica apenas na região do subdialeto do Interior Nordestino, e nas demais regiões onde é falado o dialeto, essa abertura varia) Por exemplo, segundo a regra de harmonia vocálica, em todos os subdialetos provavelmente as pessoas pronunciam as palavras "rebolar" e "hospital" como [hɛbɔ'la] e [ɔspi'taw] respectivamente, enquanto que boa parte das pessoas do Sul-Sudeste do país pronunciam geralmente [ʁebo'laɾ] e [ospi'taw]. Mas uma pessoa do interior do Ceará, do Rio Grande do Norte ou da Paraíba, regiões com influência próxima do dialeto da costa norte, pronunciariam a palavra "mesada" como [meˈzadɐ] (por derivar de "mês" [ˈme(j)s], ao passo que em algumas regiões do interior de Alagoas, de Sergipe e da Bahia a mesma palavra seja pronunciada como [mɛˈzadɐ], por influência do dialeto baiano, onde há uma super abertura dessas vogais. Porém, ao contrário do dialeto baiano, e pela mesma regra, este dialeto tende a fechar as vogais quando a sílaba é pós-tônica, assim como em boa parte do Brasil (por exemplo: a palavra "caráter" é pronunciada [kaˈɾate] neste dialeto, enquanto que no dialeto baiano é dita [kaˈɾatɛʁ]).

Monotongação de "ei" e "ou" em sílabas tônicas: No geral, o dialeto nordestino realiza muita monotongação em palavras com os ditongos "ei" e "ou" quando estes ocorrem em sílabas tônicas, onde os mesmos são frequentemente reduzidos a /e/~/ɛ/ e /o/-/ɔ/ e antes de vogal "a" e das fricativas /ʒ/ ("j" e "g" antes de "e" ou "i") e /ʃ/ ("x"), de uma oclusiva bilabial sonora-/b/, de uma vibrante simples alveolar-/ɾ/ e de /v/. O ditongo "ou" também é reduzido no fim das palavras, o que não ocorre com "ei", este pronunciado normalmente, como na palavra "sei" ['sej].

Exemplos com "ei": -"feijão": [feˈʒɐ̃w] em vez de [fejˈʒɐ̃w] -"ideia": [iˈdɛ.ɐ] em vez de [iˈdɛj.ɐ] -"beijo": [ˈbeʒu] em vez de [ˈbejʒu] -"queixo": [ˈkeʃu] em vez de [ˈkejʃu] -"vaqueiro": [vaˈkeɾu] em vez de [vaˈkejɾu] Exemplos com "ou": -"rouba": [ˈhɔbɐ] em vez de [ˈhɔwbɐ] -"frouxo": [ˈfɾoʃu] em vez de [ˈfɾowʃu] -"couro": [ˈkoɾu] em vez de [ˈkowɾu] (pronúncia equivalente à da palavra "coro") -"houve": [ˈovi] em vez de [ˈowvi] (pronúncia equivalente à da palavra "ouve") -"ficou": [fiˈko] em vez de [fiˈkow]


Ditongação de /a/, /e/, /o/ e /u/ em sílabas tônicas que terminam em /s/: De modo similar à característica descrita anteriormente, também há frequente ditongação neste dialeto, quando as vogais /a/, /e/, /o/ e /u/ ocorrem em sílabas tônicas precedidas de /s/ (ainda que /s/ seja grafado como "z"), geralmente de palavras monossilábicas, plurais e adjetivos. Ditongando /a/: "mas" ['majs] (pronúncia equivalente à da palavra "mais"). Ditongando /e/: "mês" ['mejs]. Ditongando /o/: "arroz" [a'hojs]. Ditongando /u/: "cuscuz" [kus'kujs].

Iotização das consoantes aproximante lateral palatal (/ʎ/) e nasal palatal (/ɲ/), e posterior redução silábica: Em relação ao som de "lh" e "nh", palavras como "velho" e "manhã" tem esses sons substituídos por /j/, e quando as mesmas terminam com "o" há uma redução silábica ([ˈvɛj] em vez de [ˈvɛʎu] e [mɐ̃ˈjɐ̃] em vez de [mɐ̃ˈɲɐ̃]). Entretanto, é mais comum a iotização (e posterior nasalização) de uma nasal palatal do que mesmo a iotização de uma aproximante lateral palatal, sendo o primeiro fenômeno corriqueiro na fala coloquial, enquanto o último parece muitas vezes associado a comunidades rurais ou a pessoas com baixo índice de escolaridade.

Substituição de /e/ por /ɪ/ e /o/ por /ʊ/: Ocorre com frequência nas regiões de agreste e caatinga, onde ocorre o fenômeno de harmonia vocálica, mas também pode ser percebido nas capitais (e suas regiões metropolitanas da zona da mata). Por exemplo, a palavra "botão" é pronunciada como [bʊˈtɐ̃w] em vez de [boˈtɐ̃w], e a palavra "escola" é dita [ɪsˈkɔlɐ] em vez de [esˈkɔlɐ]. Esse fenômeno é compartilhado com outros dialetos compatriotas, especialmente o carioca e os demais dialetos setentrionais.

Gramática

Algumas peculiaridades gramaticais do português falado no Nordeste são: a omissão do artigo definido antes de nome próprio com a função implícita e instintiva de diferenciar objetos, animais e coisas de pessoas e afins, poupando assim artigos que seriam desnecessários e em demasiado "artificialismo" (forçado, algo não-natural e não-espontâneo), de acordo com os falantes dessa variação (p. ex.: "Maria foi à feira" em vez de "A Maria foi à feira"), e a inversão da colocação da partícula negativa (p. ex.: "Sei não" em vez de "Não sei").


Léxico

O léxico adotado no Nordeste é, em sua maioria, o mesmo usado nas demais regiões do Brasil e em Portugal; contudo, pode haver grandes mudanças semânticas. Alguns exemplos dessas mudanças são palavras como "zunir", que quer dizer "arremessar", enquanto em outros lugares do Brasil designa o ruído do vento; ou "prenda", que no nordeste significa "presente", enquanto em outras regiões do Brasil significa "grávida" ou "garota". O "tu", assim como no Norte e no Sul do Brasil, no Distrito Federal, no Rio de Janeiro e na Baixada Santista, é usado frequentemente na região Nordeste. Em 2004, o jornalista Fred Navarro lançou o Dicionário do Nordeste, contendo cerca de cinco mil palavras e expressões peculiares à região. Vale ressaltar que apesar de os estados nordestinos terem o seu léxico próprio de palavras e expressões típicas, dependendo dos dialetos de regiões limítrofes, o léxico pode estar associado ao de outros dialetos vizinhos.

A amazofonia ou dialeto nortista é uma variação sociolinguística regional (ou geolinguística) do português formal brasileiro, a qual é empregada por boa parte dos habitantes da região amazônica. É utilizado pela maioria dos habitantes da Região Norte,[2] em 4 dos 7 estados da região (Acre, Amazonas, Roraima e Amapá) e parcialmente em 1 (Pará, excluindo-se a região de Carajás), principalmente nas duas maiores cidades (Manaus e Belém). Apresenta uma forte influência portuguesa.[3]



Índice

1 Dialeto tradicional

1.1 Variantes

2 Ver também

3 Referências

4 Ligações externas

Dialeto tradicional

Este dialeto é considerado brando[necessário esclarecer] (à exceção da letra "s"), pois tem poucos vícios de linguagens[necessário esclarecer] comparado aos outros dialetos brasileiros, modo de falar herdado dos portugueses.[3] Dentre as características principais desta variedade, destacam-se:


o uso adequado da norma culta, a conjugação verbal com o pronome de tratamento na segunda pessoa do singular "tu", por exemplo:[3][4][5] "tu fizeste", "tu és", "tu foste", "tu chegaste";

a realização fonética do "r" e do "s" em coda silábica que se assemelha àquela observada no dialeto carioca;[4]

a palatalização das consoantes dentais (/d/, /l/, /n/ e /t/) diante de [i], [ĩ] (por exemplo, galinha [gaˈʎĩɲɐ], com o l possuindo o som de lh, ou bonito [buˈɲitʊ], com o n possuindo o som de nh);

em alguns municípios, também ocorre o alçamento da vogal média /o/ para uma vogal alta [u] (por exemplo, grosso [ˈgɾusʊ]); este alçamento existe também em outros dialetos do português, mas apenas em sílabas átonas e não nas tônicas.

Para pessoas de outras regiões, esse sotaque pode soar como sotaque carioca, porém existem diferenças primordiais, como:


não há palavras gingadas[carece de fontes][necessário esclarecer];

quase o emprego de você é ofensivo, salvo as formalidades e o emprego de vós inexiste, salvo nos pronomes de tratamento e no contexto religioso, jurídico e científico;

não ocorre a substituição da fricativa pós-alveolar em coda ([ʃ] ou [ʒ], ortograficamente s) por uma fricativa velar ([x], o som da letra r em coda), à diferença daquilo que se observa no dialeto carioca (em que, por exemplo, mesmo pode ser pronunciado como mermo);

as consoantes /l/ e /n/ se palatalizam a [ʎ] e [ɲ] diante de [i], [ĩ];

a nasal palatal nh /ɲ/ se realiza sempre com uma oclusão completa no ponto de articulação palatal, em contraste a muitos outros dialetos do português, em que comumente ocorre uma realização aproximante da mesma consoante ([j̃]);

tende-se a usar mais próclises do que ênclises e se evita a mesóclise (realizar-se-á, falar-lhe-ei, ter-se-iam, dir-me-á), dado ao seu desuso.

A explicação para a composição e a formação desse sotaque é histórica: devido a forte colonização portuguesa na região Norte, em diversas vezes ao longo da história, e a pouca influência linguística de outros povos.[3][6] Sendo um sotaque empregado em quase toda a região amazônica.[3][7] Unido com o dialeto nordestino, formam o português brasileiro setentrional.[2]


Variantes

São três os principais sub-dialetos da amazofonia:


Cametaense: sub-dialeto utilizado na região de Cametá, e algumas regiões da Ilha do Marajó;[8]

Metropolitano amazônico: falado principalmente nas regiões metropolitanas de Belém, Manaus e Porto Velho;[9]

Bragantino: falado na região de Bragança.[10]

O dialeto paulistano é um dialeto do português brasileiro, pela primeira vez classificado pelo filólogo Antenor Nascentes. É falado na cidade de São Paulo e também na Macrometrópole de São Paulo. Num estudo realizado no âmbito da graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais em Belo Horizonte, o dialeto obteve mais de 93% de aprovação dos ouvintes (60 pessoas, em média, ouvidas em cinco estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná e São Paulo) como a pronúncia "mais correta" do idioma do Brasil,[1] seguido de perto pelo dialeto Gaúcho (90%). O estudo explica a grande aprovação do dialeto por parte dos entrevistados pela sua presença hegemônica nos meios de comunicação.[1]



Índice

1 Influências

2 Principais características

3 Ver também

4 Referências

5 Bibliografia

Influências

O dialeto paulistano é conhecido por englobar termos e palavras oriundas dos diversos idiomas falados por seus imigrantes, sendo tais termos inseridos gradualmente no português brasileiro e transferidos para outros dialetos deste idioma.


É fato conhecido que o dialeto paulistano adquiriu características dos idiomas de imigrantes europeus, que começaram a chegar à cidade nas últimas décadas do século XIX.


Mais de 70% dos italianos que vieram para o Brasil se fixaram no estado de São Paulo, principalmente na capital paulista.[2] No início do século XX, o italiano e seus dialetos eram tão falados quanto o português na cidade. A fala dos imigrantes fundiu-se à dos locais (dando origem a subdialetos no dialeto próprio da cidade de São Paulo. Bairros como os da Mooca e Bixiga, tradicionais por terem recebido muitos imigrantes no passado, preservam até hoje muitos termos e expressões típicas do norte da Itália.


Vale lembrar que imigrantes árabes (sírios e libaneses), japoneses, espanhóis e portugueses, também tiveram grande importância no desenvolvimento do falar paulistano, agregando novos termos ao dialeto local, embora tendo pouco impacto sobre o soar do dialeto paulistano, assim como se deu com a integração do italiano ao dialeto local. O livro "Brás, Bexiga & Barra Funda", de Alcântara Machado, os sambas de Adoniram Barbosa e Demônios da Garoa e os poemas modernistas de Juó Bananere, retrataram historicamente a influência italiana sobre o dialeto Paulistano/Paulista.


Principais características

Palatalização de /di/ e /ti/, como na maior parte dos dialetos do português falados no Sudeste, a exemplo dos dialetos carioca, fluminense, mineiro e algumas variantes do dialeto caipira: "tio" ['tʃiw] e "dia" ['dʒiɐ].

Nesse dialeto as fricativas /s/ e /z/ nunca são palatalizadas, ocorrendo até mesmo em caso de virem na frente de consoantes alveolares e dentais (/d/ e /t/), à semelhança do que ocorre com os dialetos mineiro, caipira, sertanejo, brasiliense e sulista: "isto" ['istu] e "desde" ['dezdʒi].

É frequente o uso do "r" surdo (/ɾ/) assim como ocorre nos dialetos sertanejo e sulista, ao contrário do que ocorre nos dialetos carioca, nortista e nos chamados Dialetos do Nordeste brasileiro, especialmente o cearense e o baiano, o que proporciona a um falante da língua portuguesa de outras regiões perceber um paulista falar como se estivesse "emendando uma ou sílaba ou até uma palavra na outra": "carta" ['kaɾtɐ].

A pronuncia do "s" é implosiva tal qual na maioria dos dialetos brasileiros (e em contraste forte com o "s" chiante" do dialeto carioca).[3] Exemplo: véspera ['vɛspeɾa].[4]

As palavras "átonas", como as preposições, os artigos e os pronomes oblíquos ficam unidas na forma de palavra fonológica: administração pública [aʤɪministɾa'sɐ͂ʊ̃ 'publika]; vale-refeição ['valɪ xefeɪ'sɐ͂ʊ̃]; ir para-os-ares ['iɾ paɾaʊ'zaɾɪs]; espreguiçar-se [ɪspregi'saɾsɪ].

O "o" tônico seguido de consoante nasal não vira nasal como nos outros dialetos do português brasileiro, coisa que faz com que, às vezes, seja pronunciado como vogal aberta.[5] Exemplo: homem ['ɔmẽĩ] (vs. ['õmẽĩ] no padrão geral brasileiro).

O dialeto sertanejo é um dialeto do português brasileiro. É falado no sudoeste, centro-sul e leste de Mato Grosso, noroeste de Mato Grosso do Sul, no centro-norte de Goiás, e em pequenas porções do oeste de Minas Gerais.[1][2][3][4][5]


Este dialeto é um desenvolvimento do dialeto caipira, que sofreu forte influência das ondas migratórias que correram em direção ao Centro-Oeste brasileiro principalmente após a construção de Brasília e da abertura das rodovias Belém-Brasília e BR-364. A interação cultural de imigrantes falantes dos dialetos mineiro, sulista e nordestino construiu o que hoje é conhecido como dialeto sertanejo. Ainda hoje grandes porções de Goiás e Mato Grosso do Sul ainda falam o dialeto caipira.



Índice

1 Variantes

2 Algumas características

3 Vocábulos locais (Mato Grosso)

4 Vocábulos locais (Goiás)

5 Referências

6 Ver também

7 Bibliografia

Variantes

Há algumas variantes dialetais neste modo de falar, tais como:


Dialeto da Baixada Cuiabana

Dialeto de Campo Grande e Bolsão Sul-Matogrossense

Dialeto de Goiás

Dialeto do Pantanal[6][7] e Alto Pantanal[8]

Dialeto do Triângulo Mineiro

Algumas características

Além da nunca palatalização de fricativas (/s/ e /z/) e da sempre palatalização de /di/ e /ti/ em palavras como "instinto" [ĩs'tʃĩtu] e "desde" ['dezdʒi] (características de outros dialetos), também vemos nesse dialeto uma certa alternância entre o "r" surdo (/ɾ/) e "r" aproximante alveolar (/ɹ/), onde, por exemplo, a palavra "porta" tanto pode ser falada ['pɔɾtɐ] como ['pɔɹtɐ], dependendo da região, suas proximidades e seu histórico de ocupação.[9]


Vocábulos locais (Mato Grosso)

Vôte = Credo (interjeição de surpresa, espanto, indignação ou admiração, também usada no Nordeste)

Guria = Menina

Guri = Menino

Gurizada = Galera

Pebolim = Totó

Quebra - Mola = Lombada

"Dar o balão" = Rotatória

Canháem = Credo (2)

Digoreste = Muito bom, ótimo.

Apanhar = Surra

Tchá por Deus = Expressão de espanto ou indiferença

Espia-lá = Olha lá.

Moage = Frescura

Vocábulos locais (Goiás)

Custoso = Pessoa de gênio difícil[10]

Dar rata = Passar vergonha

Dar conta = Conseguir

Paia = Ruim

Prego = Pessoa inconveniente

Pelejar = Insistir, tentar

Que nem = "Assim como", indica semelhança

Coró = Qualquer tipo de lagarta

De sal e de doce = Equivalentes a "salgado" e "doce", respectivamente

Mocozar ou mocar = Roubar, esconder, surrupiar

Quando é fé = De repente, inesperadamente

Botar fé = Concordar, apoiar, creditar

Grilar = Irritar-se

Caçar = Procurar

Ridicar = Agir de forma egoísta sobre alguma coisa

Pior (que sim)= Afirmativa. Exemplo: "Parece que vai chover" "Pior..."

Ter base = Ter fundamento, fazer sentido, ser coerente. Em negação, indica situação inacreditável

Skinny = Salgadinho industrial

Uai = Interjeição de dúvida, incerteza, suspeita, desconfiança, surpresa ou alegria

Trem = Qualquer coisa

Dar trela = Rir muito, achar graça, incentivar, despertar, motivar ou estimular

O dialeto florianopolitano, popularmente conhecido como "manezinho da ilha" ou mesmo "manezês", é a forma da língua portuguesa usada pelo nativo de Florianópolis, capital de Santa Catarina, Brasil.


O dialeto florianopolitano também é ouvido nos municípios vizinhos à capital. Este falar é fruto da união do português dos açorianos e, em menor número, madeirenses que chegaram nos meados do Século XVIII com o português já meio "indigenizado" dos vicentistas e santistas, paulistas que já habitavam a Ilha de Santa Catarina, onde se situa a capital.



Índice

1 Características

2 Escrevendo o manezês

3 Léxico

4 Referências

4.1 Referências

5 Ver também

6 Ligações externas

Características

Indígenas e africanos possivelmente contribuíram para a sua formação. Visto que Florianópolis (antiga Nossa Senhora do Desterro) era uma cidade portuária algumas expressões de outras regiões do país provavelmente foram adotadas com o tempo também. O manezês não é um falar uniforme e possui variações de acordo com a comunidade e a geração do falante. As principais características desse falar são:


Rapidez ao pronunciar as palavras, tornando difícil a compreensão pelos "não-manezinhos", ou mesmo pelos nativos mais "urbanizados";

Uso frequente do diminutivo: "Ô vô ali ligerinho falá com ele bem rapidinho" = "Eu vou logo ali falar com ele rapidamente.";

Em uma resposta (ou numa listagem) quando se usa apenas uma palavra a sílaba tônica desta é bem alongada e leva um tom descendente-ascendente (como o 3º tom do mandarim(ˇ)). Ex.: - Tinha muita gente na festa? - Tinha! [‘tĩ:3ĩ̯ i̯ɐ].

Numa sequência somente o primeiro elemento (adjetivo, artigo e pronomes (demonstrativo, indefinido e possessivo)) é pluralizado: grandes problema, os home, certas coisa. Após um número também não é utilizado o plural: três casa, dôs velho companhêro meu;

Pronúncia do "s" e do "z" como [ʃ](palato-alveolar como o "x" em xarope) antes de consoantes surdas ou em final de palavra (muitas vezes omitido, nesse caso). "As festas" seria pronunciado [ɐʃ'fɛʃtɐʃ] ou [ɐʃ'fɛʃtɐ]. O "s" e o "z" antes de consoantes sonoras são pronunciados [ʒ] (palato-alveolar como o "j" em janela), desse modo "mesma" seria pronunciado ['meʒmɐ] (no falar paulistano: ['mezmɐ]). Como acontece em outras partes do país antes de vogais (e de h mais vogal) o "s" e o "z" soam como o "z" em zero: mais alunos [mai̯za’lunuʃ], dez alunos [dεza’lunuʃ]. Há quem ainda labialize o [ʃ] (>[ʃw]) e o [ʒ] (>[ʒw]). Atualmente percebe-se que entre os mais jovens a pronúncia [ʃ/ʒ] divide espaço com a [s/z] devido a influência da mídia e dos novos moradores. A pronúncia [s/z] é considerada mais refinada por alguns;

O "s" e o "z" finais das palavras oxítonas frequentemente soam (ou pelo menos soavam) "je": trêje (três); mêje (mês); trage (traz); fage (faz), talvege (talvez), arroge (arroz) (para o "z" na mesma situação, por questões etimológicas (que ainda merecem ser debatidas), seria melhor usar "ge");

O "d" e o "t" não são africadas como no sotaque padrão do Sudeste, são alveolares (ou alveolares levemente palatizados. Essa pronúncia está ficando mais comum). Dia é dito [diɐ] (ou [djiɐ]) e não "djia" [dʒiɐ] e tia não é pronunciado "tchia" [tʃiɐ] e sim [tiɐ] (ou [tjiɐ]). Em contrapartida alguns pronunciam "oitcho" e "direitcho" em vez de oito e de direito.

O "r" no início, depois de "n" ou "l" e no final de sílaba bem como os "rr" são pronunciados [h]/[x] ou [R](uvular), sendo "perto" pronunciado ['pɛh/x/Rtu]. Os mais idosos ainda pronunciam o "r" como em português lusitano, uma vibrante alveolar [r]. No fim das palavras (assim como o "l" em "nível" ['nivi])ele frequentemente não é pronunciado: tomá (tomar). Caso a palavra seguinte comece com uma vogal o "r" final é pronunciado como alveolar: cantar o hino [kɐ~tɐ´rwinu] (é importante ressaltar que pronunciar o "r" nesse caso pode soar um tanto artificial).

O "d" dos gerúndios (-ando, -endo e -indo) não é pronunciado: "ela tá comeno" em vez de "ela está comendo". Essa pronúncia já não é mais comum;

Algumas palavras recebem fonemas epentéticos: isgreja (igreja)(em catalão igreja é "església"); (a)despôs (em espanhol depois = "después") (depois). Como em outras partes do país acrescenta-se um [i] nos grupos bc, bd, bf, bj, bn, bp, bs, bv, cc/cç, cm, cn, ct, cz, dj, dm, dn, ds, dv, fn, ft, gd, gm, gn, mn, pn, pt, tm e tn: abistrato (abstrato), rapitar (raptar), adivento (advento), rítimo (ritmo), perspequitiva (perspectiva), diguino (digno), etc.

Algumas palavras perdem fonemas: aspro (áspero) (síncope); pêsco (pêssego) (síncope); urça (úlcera) (apócope); figo (fígado) (apócope);

Palavras oxítonas terminadas em "l" e "r" recebem (ou recebiam) um "e" (soando [i]) ao final (epítese): capitale (capital); pastele (pastel); computadore (computador); dotore (doutor) (a pronúncia mais comum atualmente é "dotô");

Os ditongos [ai], [ei], [oi], [õĩ](+s) e [ow] do português padrão se transformam em [a], [e], [o], [õ] e [o] em manezês: caxa ['kaʃɐ] (caixa); cadêra [ka'derɐ] (cadeira); pôs [poʃ] (pois); cançons [kɐ̃'sõʃ] (canções); ôro ['oru] (ouro). Em "põe" o "e" se mantém;

O "i" dos grupos finais "–ais", "-éis", "-óis", "-uis" não é pronunciado: animás [ani'maʃ] (animais); anés [a'nɛʃ] (anéis); anzós [ɐ̃'zɔʃ] (anzóis); azus[a'zuʃ] (azuis), canás (canas), manuás (manuais), tribunás (tribunais);

Os ditongos finais átonos "ia", "ie" e "io" normalmente se reduzem a "a", a "e" e a "o": famíla (família), históra (história), ciênça (ciência), prême (prêmio), sére (série), advérbe (advérbio), ofertóre (ofertório);

Os ditongos "au" e "eu" (átonos e não finais) transformam-se (já não é tão frequente) em "o": otorizê (autorizei); otomóve (automóvel); Oropa (Europa). "Eu" tônico transforma-se em ô em ô (eu) (isolado e depois de preposições usa-se "eu"), mô (meu), tô (teu) e sô (seu) (somente antes de substantivos). Deus é "Deus" ou "Deuje";

Desnasalização da terminação -em,-ens: marge (margem), vage/vaja/baja (vagem). A terminação –gem (antecedida por vogal) pode ser reduzida a um –z [ʃ]: ferruz (ferrugem);

Embora não seja mais tão comum a terminação –ão pode reduzir-se para –ã: televisã (televisão), opiniã (opinião), questã (questão), relaçã (relação), naçã (nação), operaçã (operação), tubarã (tubarão), estaçã (estação), confissã (confissão), fraçã (fração), visã (visão), procissã (procissão)

Troca do –a e do -o finais átonos para -e [i]: saliva por salive, bergamota por vergamóte (com fricatização do b), aperitivo por aperitive, remédio por reméde (ao lado da forma remédo), rádio por raide (ao lado da forma raido). Por vacilação o oposto também pode ocorrer: amante por amanto, querosene por querosena. Essas trocas não ocorrem de maneira tão generalizada hoje em dia (provavelmente ninguém fala "sorveto" de "morangue" no lugar de sorvete de morango);

O –nho final átono é reduzido (em função da rapidez do falar) para uma simples nasalização (podendo ser representado por –m): remedinho por remedim;

O lh é pronunciado como um i semivogal [j]: faiá em vez de falhar. Essa pronúncia está se tornando cada vez mais rara embora comum em outros falares brasileiros. A transformação do l palatal [ʎ] para [j] também ocorre em certos lugares no espanhol (yeísmo) e já ocorreu por completo no francês e no húngaro;

Palatização do "l" da palavra "lá" depois de ditongos decrescentes com –i: foi lhá, fui lhá, vai lhá.

Existe um assobio (semelhante a um "f") que ocorre no lugar do –s final (labialização de [ʃ]?). Realmente não é fácil saber se o falante o produz espontaneamente.

Adição de "a" no início de alguns verbos: alimpá (limpar), avoá (voar), ajuntá (juntar), alembrar (lembrar). As formas alimpar e ajuntar são aceitas como paralelas no Brasil.

Perda do "r" antes de consoante em: mucho (murcho) e mucilha (morcilha);

Troca do l/u= [w] antes de consoante por r: arco (álcool), farta (falta). Não é mais tão frequente.

Troca do r antes de consoante por u=[w]: euvilha/euvíia (ervilha); cauvão (carvão); disfauçá (disfarçar (por influência de "falso"?), gaufo (garfo). Já não é tão frequente.

Nasalização do "e" e do "i" iniciais: enlençã(o) (eleição), enrado (errado), ensame (s=[z]) (exame), ensato (s=[z]) (exato), ensemplo (exemplo), ensótico (exótico), ensílio (exílio), ênsodo (êxodo), enxagero (exagero), enxistir (existir), enxercer (exercer), enxecutivo (executivo), enxecutar (executar), enxuberante (exuberante), enxonerar (exonerar), ing(ui)norante (ignorante).

O "ou" dos verbos do tipo roubar, afrouxar ou estourar torna-se "o" (aberto) nas formas rizotônicas: eu roubo= ô róbo; ele estoura os balões= ele estóra os balão.

Diz-se truxe [‘trusi] em vez de "trouxe" (1ª pessoa do singular). As formas verbais que começam por trouxe- o "ou" átono é pronunciado [o] ou [u]: ô truxe. E tu? Troxesse [tro/u'sεsi]?

Uso da fórmula verbo+bem+o mesmo verbo no particípio(às vezes no diminutivo) para enfatizar que uma ação deve ser bem realizada: explica bem explicado/explicadinho!, faz bem feito/feitinho! Certos verbos, por não se tratar de ações que exigem muito trabalho, não são usados nessa fórmula de modo que não se diz algo como "querê bem quiridinho" ou "alcançá bem alcançadinho".

Mudança do advérbio meio para "meia" antes de adjetivo feminino: meia triste, meia nervosa. Também percebe-se flexão em "pão-duro" e em "puxa-saco": Ela é muito puxa-saca dele!, Pão-dura como é, ela vai ficá é rica!

Uso, como na maior parte do Brasil, da preposição "em" com o verbo ir em vez da preposição "a": Vou no dentista/no médico/no banco/no cinema/no shopping = vou ao dentista/ao médico/ao banco/ao cinema/ao shopping.

Como em outras partes do Brasil (Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Norte e Nordeste) normalmente usa-se "tu" em vez de "você". "Você" é usado quando não há intimidade entre as pessoas ou para demonstrar respeito (especialmente se a pessoa a quem se dirige aparenta ser mais velha). É verdade que alguns usam "tu" em qualquer situação;

Uso concomitante do pronome pessoal oblíquo átono "te" e do tônico "ti": ô te di (=dei) pra ti; ô já te falê pra ti.

Repetição dos pronomes e dos adjetivos interrogativos ao fim de uma pergunta para acusar ênfase, surpresa ou indignação:

Quando é que ele fez isso quando?


Onde é que ela tá agora onde?


Cadê/quedê a faca de limpá pêxe cadê/quedê?


Como é que eles fizéro isso sem me dizê como?


Por que que ela falô aquilo por quê?


O que qu´é/que é isso o que é?


Quem (foi) que quebrô a janela quem?


Repetição do sujeito ao fim de uma oração para acusar ênfase:

O meu pai trabalha com madêra, meu pai.


A minha mãe tem asma, minha mãe.


Sobre a pronúncia dos símbolos fonéticos leia o artigo IPA.


Quanto ao uso dos verbos:

- Uso do pretérito imperfeito em vez do futuro do pretérito: eu faria= eu fazia; tu comerias= tu cumia(s);


- Uso do verbo ir (presente do indicativo) + infinitivo ou simplesmente do presente do indicativo ao invés do futuro do presente: eu farei= ô vô fazê ou ô faço;


- Uso do presente do indicativo em vez do presente do subjuntivo (o verbo ser tem a forma "sêje" para a 1ª, 2ª e 3ª pes.sin. e para a 3ª pes. plu. e "sejêmo" (ou "sêje") para a 1ª pes. plu. do subjuntivo): ele quer que eu coma= ele qué q’ô como; ele quer que eu seja mais educado= ele qué q’ô sêje más enducado;


- O futuro do presente e do pretérito e o presente do subjuntivo são raramente usados. Os dois primeiros são substituídos por locuções verbais formadas pelos verbos auxiliares ir no presente e no pretérito imperfeito e o último é substituído pelo presente do indicativo: quer que eu faça (faço), quer que eu vá (vou), quer que eu leve (levo), quer que eu compre (compro), quer que eu pegue (pego), quer que eu diga (digo), quer que eu fique (fico), quer que eu venha (venho), quer que eu ajude (ajudo), quer que eu ligue (ligo);


- O pretérito mais-que-perfeito simples (vendera, dissera, comprara, fizera) não é usado, exceto no contexto jurídico, religioso e científico, sendo frequente seu uso na forma composta;


- Uso, hoje já raro, da construção "ficá + a + infinitivo" (ficá a falá) em vez da "ficá + gerúndio" (ficá falan(d)o).


Quanto às terminações verbais:

- -amos da 1ª pessoa do plural do presente/pretérito perfeito do indicativo torna-se -emo: nós falamos assim= nós falemo ansim; -emos, -imos da 1ª pessoa do plural do presente/pretérito perfeito do indicativo tornam-se -emo, –imo: nós lemos= nós lêmo;


- -ste da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito torna-se -sse: viste?= visse? (bem característico);


- -ou da 3ª pes. sin., pretérito perfeito torna-se –ô: ela contou= ela contô;


- -am da 3ª pessoa do plural torna-se -o: eles falam= eles falo; os políticos disseram= os político disséro; -em da 3ª pessoa do plural torna-se –e ou não é pronunciado: elas se vestem= elas se veste; eles dizem= eles dize/diz;


- -s da 2ª pessoa do singular não é pronunciado: tu cantas= tu canta; tu cantavas= tu cantava (isso acontece também no falar gaúcho). Como no Rio Grande do Sul é usado a forma verbal da 3ª pessoa do singular em vez da 2ª após tu: tu não falaste com ela?= tu não falô com ela? (paralelo a "tu não falasse com ela?");


- -eres da 2ª pessoa do singular do futuro do subjuntivo torna-se -é(s): se tu fizeres mais rápido acabarás mais cedo= se tu fizé(s) más rapidinho vás acabá más cedo. Analogamente também com "queres": queres ver?= qués vê(s) (o –s de "vês" deve-se ao uso repetido do infinitivo pessoal: "queres veres?". Já -ares e -ires tornam-se= -á, -i: se tu cantares mais alto as pessoas reclamarão= se tu cantá más alto as pessoa vã/vão reclamá;


- -ares, -eres e -ires 2ª pessoa do singular do infinitivo pessoal tornam-se –á, –ê e -i: para tu fazeres= pra tu/ti fazê;


- Uso, já raro, do –i em vez do –ei nos verbos da 1ª conjugação na 1ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo (como se fosse da 2ª e da 3ª conjugação). É ainda observado em "di" (dei) (em espanhol diz-se "yo di"). Atualmente é comum (no passado era ainda mais) ouvir –ê no lugar de -ei: eu cantei= ô cantê.


Escrevendo o manezês

Muito comum é ver uma expressão manezinha escrita de várias maneiras. O manezês pode perfeitamente seguir a ortografia do português brasileiro já que se trata de um falar e não de uma língua ou de um dialeto. Alguns pontos no entanto poderiam ser considerados:


O "s" pronunciado pós-alveolar antes de consoantes e no final das palavras pode ser representado por "s" em vez de "x";

O [i] que é acrescentado ao fim das palavras (epítese) oxítonas terminadas em "l" e "r" pode ser representado por "e": capitale (capital); dotore (doutor) (a pronúncia mais comum atualmente é "dotô");

O "e" e o "o" finais não precisam ser trocados por "i" e por "u". A maioria dos brasileiros espontaneamente pronuncia o "e" e o "o" finais como [i] e [u].Em outras posições o "i" e o "u" poderiam ser usados no lugar de "e" e de "o" para alcançar uma transcrição precisa: puliça (polícia);

Os acentos agudo(´) e circunflexo(^) poderiam ser utilizados para permitir a exatidão da pronúncia: adepôje (depois); (a)dijaôje/dejaôje (?) =ainda há pouco; Terno de Rêzes (Terno de Reis); de cróca (de cócoras). Para um uso mais racional dos acentos poderia ser determinado que só um timbre (o aberto ou o fechado) seria marcado com diacrítico em palavras paroxítonas cuja pronúncia possa gerar dúvidas: ‘’adepôje" levaria acento e "croca" não (ou vice-versa). O –ei- e em –ou- paroxítonos do português padrão poderiam se converter em "ê" e "ô" em manezês: ‘’manêra’’, ‘’cadêra’’, ‘’ôro’’, ‘’côro’’. Os acentos agudo e cincunflexo poderiam ser mantidos sobre o "e" e o "o" em palavras provenientes de paroxítonas terminadas em ditongo crescente: ‘’reméde’’ (>remédio), ‘’glóra’’ (>glória).

Cemitério em manezês seria "Sumitéro" ou então "Çumitéro". O uso do "ç" inicial é visto por muitos com estranheza já que nenhuma palavra do português moderno começa com "ç". O "ç" inicial, no entanto, é encontradiço na ortografia arcaica: çapato;

A preposição "com" poderia ser elidida para "c’": abre c’a mão mesmo rapaz/ge! = abre com a mão mesmo rapaz! A conjunção e pronome "que" poderia ser reduzida para "qu’" ou "q’": foi o João qu’inventô essa bobaz = foi o João que inventou essa bobagem; qués q’ô te digo a verdade pra ti? = queres que eu diga a verdade para ti?

Sugestão para uma correlação de consoantes manezês-português:

ç (ou s quando inicial)<ch (um tanto exótico e raro) (ç/surrasco/churrasco);


ch<ç(conichons/condições);


g<z(dege/dez);


j<s(treje/três);


s<j(hoise/hoje);


z<g(rezistro/registro);


z([ʃ])<g(friaz/friagem);


s([z])<x(ensato/exato).


Léxico

Uma das principais marcas distintivas deste dialeto é seu léxico particular, em boa parte de origem açoriana. Márcia Encarnação fornece alguns exemplos[1]:


Arenga, que no português significava "fala, discurso", na fala manezinha ganhou tom pejorativo: "discurso fastidioso, repetitivo", dando origem também a arengar (discursar, arrazoar, ou então implicar, criar confusão) e arengada (conversa longa, lenga-lenga).

Corricar, que do seu significado luso original (correr a passo miúdo, andar apressadamente) passou a "andar de um lado para o outro, perambular, vagabundear".

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