segunda-feira, 27 de abril de 2020

Morfologia: Estrutura e Formação das Palavras - Resumo de Gramática

ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS
Enquanto a fonologia estuda os fonemas, a acentuação, a ortografia, a ortoépia e a prosódia, a morfologia estuda a estrutura, a formação, a classificação, as flexões e o emprego das palavras.
■ 3.1.1. Estrutura das palavras
A palavra, ao contrário do que muitos pensam, não é a menor unidade portadora de significado dentro da língua. Ela própria é formada de vários elementos também dotados de valor significativo. A essas formas portadoras de significado damos o nome de morfemas ou elementos mórficos.
Tomemos como exemplo a palavra alunas. Ela é constituída de três morfemas:
alun = morfema que é base do significado
a = morfema que indica o gênero feminino
s = morfema que indica o número plural
Assim, de acordo com a função na palavra, os morfemas são classificados em:
■ 3.1.1.1. Radical (semantema, lexema ou morfema lexical)
É o elemento que contém a significação básica da palavra: livro, livraria, livreira.
■ 3.1.1.2. Desinência (ou morfema flexional)
São elementos terminais do vocábulo. Servem para marcar:
a) gênero e número nos nomes: substantivos, adjetivos, numerais e pronomes (desinências nominais);
b) pessoa/número e tempo/modo nos verbos (desinências verbais):
■ meninas = menin (radical) + a (desinência nominal de gênero feminino) + s (desinência nominal de número plural)
■ amávamos = amá (radical) + va (desinência verbal modo-temporal) + mos (desinência verbal número-pessoal)
■ 3.1.1.3. Vogal temática
É o elemento que, nos verbos, serve para indicar a conjugação. São três:
a — para verbos de 1ª conjugação: fal+A=r
e — para verbos de 2ª conjugação: varr+E+r
i — para verbos de 3ª conjugação: part+I+r
Curiosidade: O verbo pôr e seus derivados (compor, repor, impor etc.) incluem-se na 2ª conjugação, pois a sua forma original em português é poer.
A vogal temática também pode aparecer nos nomes. Neste caso, sua função é a de preparar o radical para receber as desinências.
mares = mar (radical) + e (vogal temática) + s (desinência nominal de número plural)
■ 3.1.1.4. Tema
É o radical acrescido da vogal temática.
bebemos = beb (radical) + e (vogal temática) + mos (desinência verbal númeropessoal)
bebe = tema
■ 3.1.1.5. Afixos
Elementos de significação secundária que aparecem agregados ao radical.
Podem ser:
■ Prefixo — morfemas que se antepõem ao radical: reluz, expor.
■ Sufixo — morfemas que se pospõem ao radical: moralista, lealdade.
■ 3.1.1.6. Vogal e consoante de ligação (ou infixos)
São elementos que, desprovidos de significação, são usados entre um morfema e outro para facilitar a pronúncia.
gasômetro = gás + metro — o é vogal de ligação
chaleira = chá + eira — l é consoante de ligação
■ 3.1.2. Formação das palavras
Para criar palavras novas em português, existem, principalmente, cinco processos
diferentes.
■ 3.1.2.1. Derivação
Forma palavras pelo acréscimo de afixos. A derivação se divide em:
■ 3.1.2.1.1. Prefixal (ou prefixação)
Pela colocação de prefixos: reler, infeliz, ultravioleta, super-homem.
■ 3.1.2.1.2. Sufixal (ou sufixação)
Pela colocação de sufixos: boiada, canalizar, felizmente, artista.
■ 3.1.2.1.3. Prefixal-sufixal (ou prefixação e sufixação)
Pela colocação sucessiva de prefixo e sufixo numa só palavra: infelizmente, desigualdade, injustiça.
■ 3.1.2.1.4. Parassintética (ou parassíntese)
Pela colocação simultânea de prefixo e sufixo numa mesma palavra: anoitecer, enlouquecer. Também é chamada de circunfixação por Celso Cunha.
Curiosidade: A diferença entre a derivação prefixal-sufixal e a derivação parassintética está no fato de que na primeira podemos tirar o prefixo ou o sufixo e a palavra continua existindo; na segunda, se tirarmos o prefixo ou o sufixo, o que sobra não existe em língua portuguesa:
desigualdade = desigual, igualdade; infelizmente = infeliz, felizmente; injustiça = injusto, justiça — derivação prefixal-sufixal
enlouquecer = *enlouco, *louquecer; anoitecer = *anoite, *noitecer — essas palavras não existem — derivação parassintética.
■ 3.1.2.1.5. Regressiva
Pela redução de uma palavra primitiva: sarampo (de sarampão), barraco (de barracão), boteco (de botequim), portuga (de português). Na linguagem popular e na gíria é comum a formação de substantivos a partir de substantivos.
Curiosidade: Quando a palavra original a ser reduzida é um verbo, recebe o nome de derivação regressiva deverbal: pesca (de pescar). Geralmente são substantivos abstratos a partir de verbos na forma infinitiva. Também é chamada de regressão por Cegalla.

Identificação de um substantivo deverbal:

Substantivo que denota ação - palavra derivada: comprar > compra (regressiva)
Substantivo que denota objeto ou substância - palavra primitiva: telefone > telefonar (sufixal)
■ 3.1.2.1.6. Imprópria
Pela mudança de classe gramatical e de sentido da palavra, sem alterar sua forma: o jantar (substantivo formado pelo uso do verbo jantar), o belo (substantivo formado pelo uso do adjetivo belo). Segundo Bechara, é chamada de conversão. 
■ 3.1.2.2. Composição
Forma palavras pela ligação de dois ou mais radicais. A composição se divide em:
■ 3.1.2.2.1. Justaposição
Quando os radicais se unem sem alterações: passatempo, girassol, guarda-comida, pé de moleque.
■ 3.1.2.2.2. Aglutinação
Quando na união dos radicais há alteração de, pelo menos, um deles: fidalgo (filho + de + alguém), embora (em + boa + hora), planalto (plano + alto).
■ 3.1.2.3. Hibridismo
Forma palavras pela união de elementos de línguas diferentes: automóvel (auto — grego + móvel — latim), abreugrafia (abreu — português + grafia — grego), monocultura (mono — grego + cultura — latim), burocracia (bureau — francês + cracia — grego).
■ 3.1.2.4. Onomatopeia
Forma palavras pela reprodução aproximada de sons ou ruídos e vozes de animais: tique-taque; pingue-pongue; miar; zunir; mugir.
■ 3.1.2.5. Abreviação
Forma palavras pela redução de um vocábulo até o limite que não cause dano à sua compreensão: moto (por motocicleta), pneu (por pneumático), foto (por fotografia), cinema (por cinematográfico).
Curiosidade: Não confunda abreviação com abreviatura.
Abreviatura é a redução na grafia (somente na grafia, nunca na pronúncia) de determinadas palavras, limitando-as à letra ou letras iniciais e/ou finais: prof. (de professor)
■ 3.1.2.6. Sigla
É a redução das locuções substantivas às letras ou sílabas iniciais: IBGE — Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, FGTS — Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, Sudene — Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste.
■ 3.1.2.7. Palavra-valise (ou amálgama)
É um morfema resultante da fusão de duas palavras, uma perdendo a parte final e outra perdendo a parte inicial: brasiguaio (brasileiro + paraguaio), aborrecente (aborrecer + adolescente), showmício (show + comício)
■ 3.1.2.8. Neologismo
É a criação de uma palavra ou expressão nova ou atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente: deletar (eliminar), internetês (linguagem da internet); rede (internet), gato (ligação elétrica clandestina), zebra (resultado inesperado)

Quando a palavra já existe mas ganha um novo sentido, chama-se de neologismo semântico.
Quando uma nova palavra é criada com um novo conceito, chama-se de neologismo lexical.
■ 3.1.2.9. Estrangeirismo (ou empréstimo linguístico)
É a introdução de palavras de outros idiomas na língua portuguesa, muitas vezes incorporadas ao nosso léxico: shopping, marketing, download, show, impeachment; conhaque (de cognac), buquê (de bouquet), uísque (de whisky), gangue (de gang), chique (de chic).
■ 3.1.2.10. Decalque
Termo francês que significa cópia ou imitação, é a tradução de uma palavra ou expressão estrangeira: fim de semana (weekend), jardim de infância (kindergarten), arranha-céu (skyscraper).
■ 3.1.2.11. Intensificação
É o alargamento do sufixo de uma palavra já existente: obstaculizar (por obstacular), protocolizar (por protocolar), inicializar (por iniciar), digitalizar (por digitar), culpabilizar (por culpar).
■ 3.1.3. Radicais e prefixos gregos e latinos
■ 3.1.3.1. Radicais gregos
AEROS (ar): aeronáutica
ACROS (alto): acrofobia
AGOGOS (conduzir): demagogo
ALGIA (dor): nevralgia
ANTROPOS (homem): antropologia
ARQUIA (governo): monarquia
AUTOS (si mesmo): autobiografia
BIBLION (livro): biblioteca
BIOS (vida): biosfera
CACO (mau): cacofonia
CALI (belo): caligrafia
CEFALO (cabeça): acéfalo
COSMO (mundo): cosmopolita
CLOROS (verde): clorofila
CRONOS (tempo): cronologia
CROMOS (cor): cromoterapia
DACTILOS (dedo): datilografia
DEMOS (povo): democracia
DERMA (pele): epiderme
DOXA (opinião): ortodoxo
DROMO (lugar para corridas): hipódromo
EDRA (lado): poliedro
FAGO (comer): antropófago
FILOS (amigo): filósofo
FOBIA (medo): claustrofobia
FONOS (som, voz): telefone
GAMIA (casamento): polígamo
GEO (terra): geografia
GLOTA (língua): poliglota
GRAFO (escrever, descrever): geografia
HÉLIOS (sol): heliocêntrico
HIDRO (água): hidrografia
HIPO (cavalo) hipopótamo
ICONOS (imagem): iconoclasta
LOGO (discurso): monólogo
MEGALOS (grande): megalópole
MICRO (pequeno): micróbio
MIS (ódio): misantropo
MORFE (forma): morfologia
NEOS (novo): neologismo
ODOS (caminho): método
PIROS (fogo): pirosfera
POLIS (cidade) metrópole
PSEUDO (falso): pseudônimo
PSIQUE (alma): psicologia
POTAMO (rio): hipopótamo
SACARO (açúcar): sacarose
SOFOS (sábio): filósofo
TELE (longe): televisão
TEOS (deus): teologia
TOPOS (lugar): topônimo
XENO (estrangeiro): xenofobia
ZOO (animal): zoologia
■ 3.1.3.2. Radicais latinos
AGRI (campo): agrícola
ARBORI (árvore): arborizar
AVI (ave): avícola
BIS (duas vezes): bisavô
CAPITI (cabeça): decapitar
CIDA (que mata): homicida
COLA (que cultiva ou habita): vinícola
CRUCI (cruz): crucificar
CULTURA (cultivar): apicultura
CURVI (curvo): curvilíneo
EQUI (igual): equidade
FERO (que contém ou produz): mamífero
FICO (que produz): benéfico
FIDE (fé): fidelidade
FRATER (irmão): fraternidade
FUGO (que foge): centrífugo
IGNI (fogo): ignição
LOCO (lugar): localizar
LUDO (jogo): ludoterapia
MATER (mãe): maternidade
MULTI (muito): multinacional
ONI (todo): onisciente
PARO (que produz): ovíparo
PATER (pai): paternidade
PEDE (pé): pedestre
PISCI (peixe): piscicultura
PLURI (vários): pluricelular
PLUVI (chuva): pluvial
PUER (criança): puericultura
QUADRI (quatro): quadrilátero
RÁDIO (raio): radiografia
RETI (reto): retilíneo
SAPO (sabão): saponáceo
SEMI (metade): semicírculo
SESQUI (um e meio): sesquicentenário
SILVA (floresta): silvícola
SONO (que soa): uníssono
TRI (três): tricolor
UMBRA (sombra): penumbra
UNI (um): uníssono
VERMI (verme): verminose
VOMO (que expele): ignívomo
VORO (que come): carnívoro
■ 3.1.3.3. Prefixos gregos
A/AN (negação): anônimo
ANA (inversão): anagrama
ANFI (duplo): anfíbio
ANTI (contrário): antiaéreo
ARCE, ARQUI (posição superior): arcebispo, arquiduque
DIS (dificuldade): disenteria
DI (dois): dissílabo
ENDO (para dentro): endoscopia
EPI (em cima de): epicentro
EU (bem, bom): eufonia
HEMI (metade): hemisfério
HIPER (excesso): hipertensão
HIPO (inferior, deficiente): hipoderme
META (para além): metamorfose
PARA (proximidade): parágrafo
PERI (em torno de): período
■ 3.1.3.4. Prefixos latinos
ABS/AB (afastamento): abjurar
AD (aproximação): adjunto
AMBI (duplicidade): ambidestro
ANTE (anterior): antedatar
CIRCUM (movimento em torno): circunferência
CIS (posição anterior): cisandino
EX (movimento para fora, anterioridade): exportar, ex-ministro
IN/IM (negação): invertebrado
INTRA (movimento para dentro): intravenoso
INTER/ENTRE (entre, reciprocidade): intervir, entrelinhas
JUSTA (ao lado de): justaposição
PENE (quase): penúltimo
PER (através de): percorrer
POS (posterior): pospor
SOBRE/SUPRA (posição superior): supracitado, sobreloja
TRANS (através, além): transatlântico
VICE/VIS (no lugar de): vice-reitor

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