O específico informa melhor que o genérico. O definido, melhor que o vago. O concreto, melhor que o abstrato. Cachorro policial é mais singular que cachorro. Homem, mais que animal. Macieira, mais que árvore. Árvore, mais que planta ou vegetal. Trabalhador tem sentido muito amplo. Advogado é mais restrito. Advogado tributarista, mais ainda. Não foi por acidente que Gonçalves Dias compôs: “Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá”. Se tivesse dito Minha terra tem árvores / Onde canta o pássaro, seus versos estariam enterrados com ele, ignorados de todos.
Substantivos e verbos são a roupa e o sapato da frase. As demais classes gramaticais, os acessórios. Escreva com a convicção de que no idioma só existem nomes e verbos. Adjetivos, advérbios, conjunções & cia. devem ser usados com cuidado e parcimônia. “Nos grandes mestres”, ensinou Monteiro Lobato, “o adjetivo é escasso e sóbrio — vai abundando progressivamente à medida que descemos a escala de valores.”
O adjetivo não deixa alternativa. Dá vida ou mata. Para animar, deve revelar virtudes capazes de especificar melhor o substantivo e restringirlhe a abrangência. Em outras palavras: precisa acrescentar precisão e economia à frase. Nunca enfeitar o enunciado. Existem dois tipos de adjetivos. Um: o denotativo, que particulariza o objeto. Não emite opinião, informa. É bem-vindo (mesa redonda, parede branca, homem negro, cabelo loiro). O outro: o subjetivo ou afetivo. Limita-se a registrar o julgamento de quem escreve (cor repousante, mulher bonita, pessoa desagradável). Usá-lo pressupõe que o leitor esteja pedindo a opinião do repórter. É pretensioso. Nesse time figuram os adjetivos-ônibus — termos vazios e inexpressivos porque se aplicam a qualquer substantivo: maravilhoso, formidável, fantástico, lindo, espetacular, bonito. Fuja deles. Certos adjetivos associados a determinados substantivos formam chavões pela insistência do uso. É fácil romper o casamento: ascensão meteórica (em que consiste?), lucros fabulosos (valor aproximado?), inflação galopante (índice?), monstruoso congestionamento (quantos carros?), prejuízos incalculáveis (valor aproximado?), vitória esmagadora (número de votos? Percentagem?).
O advérbio é o adjetivo do verbo. Se não for para indicar com exatidão a circunstância em que os fatos ocorreram, pode ser retirado da frase sem prejuízo. Use-o, pois, com cautela. Lembrese de que o desnecessário sobra: (Como todos sabem), os textos jornalísticos devem (sempre) ser escritos (literalmente) com economia verbal.
Ser claro é obrigação de quem escreve. O artigo definido se presta à confusão de significados. Dobre a atenção ao usá-lo. Ao dizer “os metalúrgicos aderiram à greve”, englobam-se todos os metalúrgicos, sem exceção. Se são alguns, dispensa-se o artigo: Metalúrgicos aderiram à greve.
Cargos e funções, se exercidos por mulher, escrevemse no feminino. Presidente (ou presidenta), agente administrativa, secretária-executiva servem de exemplo. Atenção ao exagero. Siga a índole da língua. Na concorrência de feminino e masculino, fique com o masculino plural. Filhos engloba filhos e filhas. Brasileiros, brasileiros e brasileiras. Amigos, amigos e amigas. Não caia no modismo irritante de discriminar — sem necessidade — o sexo das pessoas: os presentes e as presentes, os leitores e as leitoras, os embaixadores e as embaixadoras, os comunicadores e as comunicadoras. Os artistas e as artistas, os atletas e as atletas. Cruzcredo!
O não provoca arrepios. Talvez por lembrar repressões da infância. Não faça isso, não faça aquilo. Não pode isso, não pode aquilo. Os nãos acompanham a pessoa vida afora. Mas ninguém os ama, ninguém os quer. Muitos preferem mantêlos no esquecimento. Por isso a forma positiva ganha banda de música e tapete vermelho. A regra é dizer o que é, não o que não é. Não ser pontual é ser impontual. Não lembrar é esquecer. Não assistir à aula é faltar à aula. Não mentir é falar a verdade. Não duvidar é ter certeza. Não fazer mudanças na equipe é manter a equipe. Não votar o projeto hoje é adiar a votação
Dizem que o brasileiro dá uma boiada para não assumir compromisso. A voz passiva lhe presta uma senhora ajuda. O agente fica lá atrás ou nem aparece. Resultado: a declaração fica frouxa, flácida e desbotada. Salvo exceções, melhor usar a ativa. Ela é mais direta, vigorosa e concisa que a passiva. Dê-lhe preferência sempre que puder. A voz passiva é literária. Sem-terra tomam ministério por seis horas é construção preferível a Ministério é tomado por sem-terra durante seis horas. O artigo foi escrito por mim pode dar lugar a Eu escrevi o artigo. Glenn Van Ekeren escreveu: “Preciso fazer algo resolverá mais problemas que algo precisa ser feito”.
Os verbos dicendi ou de elocução aceitam a conjunção integrante (que, se): disse que, afirmou que, mandou que, pediu que, perguntou se, indagou se. Alguns verbos não são “de dizer”, mas “de sentir” (gemer, suspirar, lamentar, queixar-se, explodir), por isso são chamados sentiendi. Expressam emoção, estado de espírito, reação psicológica. Devem ser empregados no discurso direto, antepostos ou pospostos à declaração. Eles rejeitam a conjunção integrante: “Estamos perdidos”, gemeu Napoleão. Gemeu Napoleão: “Estamos perdidos”. (Nunca se dirá “Napoleão gemeu que estava perdido”.)
A psicologia prova. A pessoa só consegue dominar certo número de palavras antes que os olhos peçam uma pausa. Testes sobre a legibilidade e a memória demonstram dois fatos. Um: se o período tem a média de 200 toques, o leitor retém a segunda metade pior que a primeira. Dois: se 250 ou mais, grande parte do enunciado se perde. Daí a importância da frase curta e da ordem direta. Sentenças de mais ou menos 150 toques apresentam dupla vantagem. A primeira: facilitam a vida do leitor. A segunda: prestam senhora ajuda ao repórter. Com elas, erra-se menos. Conjunções, vírgulas, correlações verbais & cia. — pedra no caminho de quem escreve rápido e sob pressão — oferecem menos perigo. A razão é simples. Precisa-se menos deles. O jeito, então, é usar ponto. Primeiro mandamento: conjugue o verbo cassar. Passe a tesoura em gerúndios, quês, conjunções subordinativas, fileirinhas de dês: GERÚNDIO O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, recebe hoje documentação referente à defesa da deputada Jaqueline Roriz no caso do escândalo do Mensalão de Brasília, tendo até o fim de maio para decidir se pede ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito criminal contra a parlamentar
Melhor: O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, recebe hoje a documentação referente à defesa da deputada Jaqueline Roriz no caso do escândalo do Mensalão de Brasília. Ele terá até o fim de maio para decidir se pede ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito criminal contra a parlamentar. QUÊS De acordo com o advogado Antônio José Maria, que defende Jaqueline no caso, o material que será entregue a Gurgel é suficiente para esclarecer eventuais dúvidas sobre o dinheiro que a parlamentar recebeu de Durval Barbosa e que constitui transação corriqueira.
Melhor: Antônio José Maria, advogado de Jaqueline, deu a sua versão: o material que será entregue a Gurgel é suficiente para esclarecer eventuais dúvidas sobre o dinheiro que a parlamentar recebeu de Durval Barbosa. A transação, segundo ele, seria doação para campanha. FILEIRINHAS DE DÊS Termos longos ligados por uma fileira de dês constituem pedra no caminho do leitor. Podem virar armadilha. De um lado, pecam pela abstração. De outro, pela dificuldade de serem entendidos. Vale tudo para descarrilhar o trenzinho. A melhor estratégia: transformar substantivos e adjetivos em verbos. Veja: O progresso dos estudantes de instituições de ensino do governo é lento. Ruim, não? O período, além da fileirinha de dês, parece manco. A razão: o sujeito tem 22 sílabas. O predicado, três. Melhor harmonizá-lo. Busquemos o verdadeiro sujeito e usemos verbo de ação: Os estudantes de escolas públicas progridem lentamente. Só as frases curtas têm vez? Claro que não. Um período longo aqui e ali cai bem. Quebra a monotonia e ajuda o ritmo. O segredo reside no equilíbrio e na facilidade de leitura.
Ordem direta Por que ordem direta? Na leitura rápida, a memória funciona a curto prazo. É como quando alguém diz a placa do carro ou o número do telefone. Para não esquecêlos, temos duas saídas — repeti-los muitas vezes, ou anotá-los. Mais: a cabeça retém melhor o que vem primeiro. Daí a importância da ordem direta. Na frente, o mais significativo. Atrás, o secundário. Sujeito + verbo + complemento é a fórmula: Ronaldinho teve uma série de convulsões no dia da partida que decidiria a Copa do Mundo de 2002. A ideia substantiva — as convulsões de Ronaldinho — abre o enunciado. É ela que ficará retida na memória. O complemento tem importância secundária. Se algum pormenor se perder, não comprometerá o recado
Compare: No dia da partida que decidiria a Copa do Mundo de 2002, Ronaldinho teve uma série de convulsões. A informação mais importante perdeu-se na rabeira da frase. Azar do leitor
Ordem de colocação As palavras gozam de plena liberdade. Passeiam com desenvoltura na frase. Às vezes, o sujeito aparece no início da oração. Outras, no meio. Aqui e ali, no fim. As voltinhas não se restringem ao sujeito. Boa parte dos termos lança mão do privilégio sem cerimônia. Mas o vai e vem tem limite. O freio reside nas exigências da clareza e da coerência. Para evitar ambiguidades, “amarre” cada termo determinante ao respectivo termo determinado. Haverá um debate sobre comércio exterior na sede da Fiesp. O debate se realizará na sede da Fiesp, mas a colocação do adjunto adverbial na sede da Fiesp junto do termo comércio exterior leva a outra leitura: o seminário tratará do comércio exterior na sede da Fiesp. Nada feito. Aproxime o adjunto adverbial do termo a que se refere: Haverá, na sede da Fiesp, um seminário sobre comércio exterior. Na sede da Fiesp, haverá um seminário sobre comércio exterior. Holanda disse que repassou à polícia informações sobre a suspeita de envolvimento do exfuncionário com o grupo que fraudava concursos para ajudar nas investigações. O texto diz que o exfuncionário fraudava concursos para ajudar nas investigações. Generosidade? Não. Problema de colocação. Quem quer ajudar a polícia é Holanda. A oração deve ir para pertinho dele: Holanda disse que, para ajudar nas investigações, repassou à polícia informações sobre a suspeita de envolvimento do ex-funcionário com o grupo que fraudava concursos.
Harmonia A frase harmônica soa bem. Tem ritmo. Sem ecos, repetições ou cacofonias, desce redôndio. A harmonia está ligada ao ouvido. Segredo dos grandes escritores, implica a habilidade de combinar palavras e frases com elegância — sem tropeços ou dissonâncias. Há caminhos que levam à carícia da língua. Olho no tamanho da palavra. O termo mais curto (com menor número de sílabas) deve preceder o mais longo: Bom: O presidente pediu aos deputados que votassem a PEC em regime de urgência urgentíssima. Mau: O presidente pediu aos deputados que votassem, em regime de urgência urgentíssima, a PEC. Bom: O terremoto de magnitude 8,9 devastou o Japão na primeira hora da tarde de sexta-feira. Mau: O terremoto de magnitude 8,9, na primeira hora da tarde de sexta-feira, devastou o Japão.
Truque do três
Ninguém sabe por quê. Mas trios bajulam os ouvidos. Pai, Filho e Espírito Santo formam a Santíssima Trindade. “Liberdade, igualdade e fraternidade” é o lema da Revolução Francesa. Governo do povo, para o povo, pelo povo, proclamou Abraham Lincoln. Vim, vi e venci, orgulhouse Júlio César. Nas enumerações, o três faz mágicas. Pense em três itens para agrupar: Joseph Ratzinger colecionou desafetos ao combater o divórcio, o homossexualismo, o sacerdócio feminino.
O estilo deve ter três virtudes: clareza, clareza e clareza.
Vamos trabalhar com afinco, vontade e competência.
Precisamos fazer a pesquisa com concisão, objetividade e eficiência.
Substantivos e verbos são a roupa e o sapato da frase. As demais classes gramaticais, os acessórios. Escreva com a convicção de que no idioma só existem nomes e verbos. Adjetivos, advérbios, conjunções & cia. devem ser usados com cuidado e parcimônia. “Nos grandes mestres”, ensinou Monteiro Lobato, “o adjetivo é escasso e sóbrio — vai abundando progressivamente à medida que descemos a escala de valores.”
O adjetivo não deixa alternativa. Dá vida ou mata. Para animar, deve revelar virtudes capazes de especificar melhor o substantivo e restringirlhe a abrangência. Em outras palavras: precisa acrescentar precisão e economia à frase. Nunca enfeitar o enunciado. Existem dois tipos de adjetivos. Um: o denotativo, que particulariza o objeto. Não emite opinião, informa. É bem-vindo (mesa redonda, parede branca, homem negro, cabelo loiro). O outro: o subjetivo ou afetivo. Limita-se a registrar o julgamento de quem escreve (cor repousante, mulher bonita, pessoa desagradável). Usá-lo pressupõe que o leitor esteja pedindo a opinião do repórter. É pretensioso. Nesse time figuram os adjetivos-ônibus — termos vazios e inexpressivos porque se aplicam a qualquer substantivo: maravilhoso, formidável, fantástico, lindo, espetacular, bonito. Fuja deles. Certos adjetivos associados a determinados substantivos formam chavões pela insistência do uso. É fácil romper o casamento: ascensão meteórica (em que consiste?), lucros fabulosos (valor aproximado?), inflação galopante (índice?), monstruoso congestionamento (quantos carros?), prejuízos incalculáveis (valor aproximado?), vitória esmagadora (número de votos? Percentagem?).
O advérbio é o adjetivo do verbo. Se não for para indicar com exatidão a circunstância em que os fatos ocorreram, pode ser retirado da frase sem prejuízo. Use-o, pois, com cautela. Lembrese de que o desnecessário sobra: (Como todos sabem), os textos jornalísticos devem (sempre) ser escritos (literalmente) com economia verbal.
Ser claro é obrigação de quem escreve. O artigo definido se presta à confusão de significados. Dobre a atenção ao usá-lo. Ao dizer “os metalúrgicos aderiram à greve”, englobam-se todos os metalúrgicos, sem exceção. Se são alguns, dispensa-se o artigo: Metalúrgicos aderiram à greve.
Cargos e funções, se exercidos por mulher, escrevemse no feminino. Presidente (ou presidenta), agente administrativa, secretária-executiva servem de exemplo. Atenção ao exagero. Siga a índole da língua. Na concorrência de feminino e masculino, fique com o masculino plural. Filhos engloba filhos e filhas. Brasileiros, brasileiros e brasileiras. Amigos, amigos e amigas. Não caia no modismo irritante de discriminar — sem necessidade — o sexo das pessoas: os presentes e as presentes, os leitores e as leitoras, os embaixadores e as embaixadoras, os comunicadores e as comunicadoras. Os artistas e as artistas, os atletas e as atletas. Cruzcredo!
O não provoca arrepios. Talvez por lembrar repressões da infância. Não faça isso, não faça aquilo. Não pode isso, não pode aquilo. Os nãos acompanham a pessoa vida afora. Mas ninguém os ama, ninguém os quer. Muitos preferem mantêlos no esquecimento. Por isso a forma positiva ganha banda de música e tapete vermelho. A regra é dizer o que é, não o que não é. Não ser pontual é ser impontual. Não lembrar é esquecer. Não assistir à aula é faltar à aula. Não mentir é falar a verdade. Não duvidar é ter certeza. Não fazer mudanças na equipe é manter a equipe. Não votar o projeto hoje é adiar a votação
Dizem que o brasileiro dá uma boiada para não assumir compromisso. A voz passiva lhe presta uma senhora ajuda. O agente fica lá atrás ou nem aparece. Resultado: a declaração fica frouxa, flácida e desbotada. Salvo exceções, melhor usar a ativa. Ela é mais direta, vigorosa e concisa que a passiva. Dê-lhe preferência sempre que puder. A voz passiva é literária. Sem-terra tomam ministério por seis horas é construção preferível a Ministério é tomado por sem-terra durante seis horas. O artigo foi escrito por mim pode dar lugar a Eu escrevi o artigo. Glenn Van Ekeren escreveu: “Preciso fazer algo resolverá mais problemas que algo precisa ser feito”.
Os verbos dicendi ou de elocução aceitam a conjunção integrante (que, se): disse que, afirmou que, mandou que, pediu que, perguntou se, indagou se. Alguns verbos não são “de dizer”, mas “de sentir” (gemer, suspirar, lamentar, queixar-se, explodir), por isso são chamados sentiendi. Expressam emoção, estado de espírito, reação psicológica. Devem ser empregados no discurso direto, antepostos ou pospostos à declaração. Eles rejeitam a conjunção integrante: “Estamos perdidos”, gemeu Napoleão. Gemeu Napoleão: “Estamos perdidos”. (Nunca se dirá “Napoleão gemeu que estava perdido”.)
A psicologia prova. A pessoa só consegue dominar certo número de palavras antes que os olhos peçam uma pausa. Testes sobre a legibilidade e a memória demonstram dois fatos. Um: se o período tem a média de 200 toques, o leitor retém a segunda metade pior que a primeira. Dois: se 250 ou mais, grande parte do enunciado se perde. Daí a importância da frase curta e da ordem direta. Sentenças de mais ou menos 150 toques apresentam dupla vantagem. A primeira: facilitam a vida do leitor. A segunda: prestam senhora ajuda ao repórter. Com elas, erra-se menos. Conjunções, vírgulas, correlações verbais & cia. — pedra no caminho de quem escreve rápido e sob pressão — oferecem menos perigo. A razão é simples. Precisa-se menos deles. O jeito, então, é usar ponto. Primeiro mandamento: conjugue o verbo cassar. Passe a tesoura em gerúndios, quês, conjunções subordinativas, fileirinhas de dês: GERÚNDIO O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, recebe hoje documentação referente à defesa da deputada Jaqueline Roriz no caso do escândalo do Mensalão de Brasília, tendo até o fim de maio para decidir se pede ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito criminal contra a parlamentar
Melhor: O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, recebe hoje a documentação referente à defesa da deputada Jaqueline Roriz no caso do escândalo do Mensalão de Brasília. Ele terá até o fim de maio para decidir se pede ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito criminal contra a parlamentar. QUÊS De acordo com o advogado Antônio José Maria, que defende Jaqueline no caso, o material que será entregue a Gurgel é suficiente para esclarecer eventuais dúvidas sobre o dinheiro que a parlamentar recebeu de Durval Barbosa e que constitui transação corriqueira.
Melhor: Antônio José Maria, advogado de Jaqueline, deu a sua versão: o material que será entregue a Gurgel é suficiente para esclarecer eventuais dúvidas sobre o dinheiro que a parlamentar recebeu de Durval Barbosa. A transação, segundo ele, seria doação para campanha. FILEIRINHAS DE DÊS Termos longos ligados por uma fileira de dês constituem pedra no caminho do leitor. Podem virar armadilha. De um lado, pecam pela abstração. De outro, pela dificuldade de serem entendidos. Vale tudo para descarrilhar o trenzinho. A melhor estratégia: transformar substantivos e adjetivos em verbos. Veja: O progresso dos estudantes de instituições de ensino do governo é lento. Ruim, não? O período, além da fileirinha de dês, parece manco. A razão: o sujeito tem 22 sílabas. O predicado, três. Melhor harmonizá-lo. Busquemos o verdadeiro sujeito e usemos verbo de ação: Os estudantes de escolas públicas progridem lentamente. Só as frases curtas têm vez? Claro que não. Um período longo aqui e ali cai bem. Quebra a monotonia e ajuda o ritmo. O segredo reside no equilíbrio e na facilidade de leitura.
Ordem direta Por que ordem direta? Na leitura rápida, a memória funciona a curto prazo. É como quando alguém diz a placa do carro ou o número do telefone. Para não esquecêlos, temos duas saídas — repeti-los muitas vezes, ou anotá-los. Mais: a cabeça retém melhor o que vem primeiro. Daí a importância da ordem direta. Na frente, o mais significativo. Atrás, o secundário. Sujeito + verbo + complemento é a fórmula: Ronaldinho teve uma série de convulsões no dia da partida que decidiria a Copa do Mundo de 2002. A ideia substantiva — as convulsões de Ronaldinho — abre o enunciado. É ela que ficará retida na memória. O complemento tem importância secundária. Se algum pormenor se perder, não comprometerá o recado
Compare: No dia da partida que decidiria a Copa do Mundo de 2002, Ronaldinho teve uma série de convulsões. A informação mais importante perdeu-se na rabeira da frase. Azar do leitor
Ordem de colocação As palavras gozam de plena liberdade. Passeiam com desenvoltura na frase. Às vezes, o sujeito aparece no início da oração. Outras, no meio. Aqui e ali, no fim. As voltinhas não se restringem ao sujeito. Boa parte dos termos lança mão do privilégio sem cerimônia. Mas o vai e vem tem limite. O freio reside nas exigências da clareza e da coerência. Para evitar ambiguidades, “amarre” cada termo determinante ao respectivo termo determinado. Haverá um debate sobre comércio exterior na sede da Fiesp. O debate se realizará na sede da Fiesp, mas a colocação do adjunto adverbial na sede da Fiesp junto do termo comércio exterior leva a outra leitura: o seminário tratará do comércio exterior na sede da Fiesp. Nada feito. Aproxime o adjunto adverbial do termo a que se refere: Haverá, na sede da Fiesp, um seminário sobre comércio exterior. Na sede da Fiesp, haverá um seminário sobre comércio exterior. Holanda disse que repassou à polícia informações sobre a suspeita de envolvimento do exfuncionário com o grupo que fraudava concursos para ajudar nas investigações. O texto diz que o exfuncionário fraudava concursos para ajudar nas investigações. Generosidade? Não. Problema de colocação. Quem quer ajudar a polícia é Holanda. A oração deve ir para pertinho dele: Holanda disse que, para ajudar nas investigações, repassou à polícia informações sobre a suspeita de envolvimento do ex-funcionário com o grupo que fraudava concursos.
Harmonia A frase harmônica soa bem. Tem ritmo. Sem ecos, repetições ou cacofonias, desce redôndio. A harmonia está ligada ao ouvido. Segredo dos grandes escritores, implica a habilidade de combinar palavras e frases com elegância — sem tropeços ou dissonâncias. Há caminhos que levam à carícia da língua. Olho no tamanho da palavra. O termo mais curto (com menor número de sílabas) deve preceder o mais longo: Bom: O presidente pediu aos deputados que votassem a PEC em regime de urgência urgentíssima. Mau: O presidente pediu aos deputados que votassem, em regime de urgência urgentíssima, a PEC. Bom: O terremoto de magnitude 8,9 devastou o Japão na primeira hora da tarde de sexta-feira. Mau: O terremoto de magnitude 8,9, na primeira hora da tarde de sexta-feira, devastou o Japão.
Truque do três
Ninguém sabe por quê. Mas trios bajulam os ouvidos. Pai, Filho e Espírito Santo formam a Santíssima Trindade. “Liberdade, igualdade e fraternidade” é o lema da Revolução Francesa. Governo do povo, para o povo, pelo povo, proclamou Abraham Lincoln. Vim, vi e venci, orgulhouse Júlio César. Nas enumerações, o três faz mágicas. Pense em três itens para agrupar: Joseph Ratzinger colecionou desafetos ao combater o divórcio, o homossexualismo, o sacerdócio feminino.
O estilo deve ter três virtudes: clareza, clareza e clareza.
Vamos trabalhar com afinco, vontade e competência.
Precisamos fazer a pesquisa com concisão, objetividade e eficiência.
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