domingo, 13 de março de 2022

Sete chaves por quê?

 “Olá, Sérgio! Gostaria de saber a origem da expressão ‘trancado/fechado/guardado a sete chaves’. Na verdade, é o número de chaves que me encabula. Por que sete? Tem a ver com o sentido místico e religioso frequentemente atribuído a esse número? Grato.” (Júlio César Leal)


Sem dúvida alguma, Júlio. As chaves que garantem a máxima segurança, segundo o dito popular, são sete pela única razão de que sete é um número especial, associado desde a antiguidade com o misticismo, a magia, a transcendência, a sabedoria superior.


As chaves são sete como sete são as maravilhas do mundo, os dias da semana, as notas musicais, as cores do arco-íris, os sacramentos da Igreja Católica, os dons do Espírito Santo, os pecados capitais e as virtudes opostas etc.


Seduzida pelo sete desde tempos imemoriais, a imaginação popular pode ter dado um jeito de engordar um pouquinho o número de chaves para tornar mais expressiva a locução. Há indícios de que a princípio, no português medieval, dizia-se “trancado/guardado a quatro chaves”. É o que nos conta Câmara Cascudo em seu livro “Locuções tradicionais no Brasil”:


As arcas de segredo, destinadas a guardar documentos, ouro, joias, desde o século XIII em Portugal, eram de madeira sólida e com quatro fechaduras de ferro. Cada chave competia a um alto funcionário, às vezes o próprio Rei pertencia ao número dos chaveiros. Seria possível abri-la somente com a presença e a colaboração dos quatro claviculários.


Pode ser que as tais arcas de quatro chaves tenham tido um papel na formação da expressão portuguesa. No entanto, é preciso levar em conta que referências a “sete chaves” existem em relatos populares de fundo mágico de diversos países.

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