domingo, 21 de junho de 2020

Temas de Liturgia (2)

Agora, depois de termos visto os ritos iniciais, veremos a Liturgia da Palavra, que vai da primeira leitura até a oração dos fiéis. Eis as observações que gostaria de fazer:

(1) O centro da Liturgia da Palavra é o ambão. Assim como toda igreja deve ter o Altar, deve ter também o ambão. Mesmo uma capelinha modesta deve tê-lo. Onde colocá-lo? De preferência, segundo antigo costume, no lado esquerdo do Altar, o chamado lado do Evangelho na liturgia antiga. Mas, pode também ser colocado em outro lugar, desde que seja no presbitério. Deve estar num lugar bem visível e não deve ser uma simples estante móvel. Deve ser fixo e, de preferência, do mesmo material do Altar. Do ambão são proferidas somente as leituras, o salmo e o precônio pascal. Também daí pode ser feita a homilia e as intenções das orações dos fiéis. Nunca se faz o comentário ou se dá avisos do ambão: sua dignidade exige que aí suba somente quem vai proclamar a Palavra! Para comentários e avisos (e, se for o caso, para a oração dos fiéis), coloque-se uma estante simples e digna fora do presbitério. Missa não é show e sim sacrifício! Também é proibido usar expressões tipicamente trabalhistas, empresariais e contábeis ou expressões típicas gramaticais, literárias ou textuais. Não é uma reunião ou um curso! Isso é enrolation, embromation, enganation e espertezation litúrgica! Pior mesmo é usar mesóclises, do tipo realizar-se-á, falar-lhe-ei, ter-se-iam, dir-me-á, edificá-lo-ei, manter-se-ia ou contentar-nos-emos. Missa não é uma academia de letras!

(2) Quanto às leituras: (a) Se houver comentários antes delas (coisa totalmente desnecessária, chata, antipática e inoportuna), estes devem ser brevíssimos. (b) O comentarista nunca pode dizer qual o livro que será lido e muito menos dizer capítulo e versículo. (c) É o leitor quem anuncia: “Leitura do… leitura da…”, conforme está no Lecionário, sem inventar moda. (d) Nunca se faz a leitura pelo jornalzinho ou pela liturgia diária! Isto non ecziste! A dignidade da Palavra de Deus e o respeito profundo que se lhe deve ter exigem que esta seja proclamada do Lecionário. Também é absolutamente errado fazer a leitura pela bíblia. Não somente é errado como é também proibido desde o tempo que se escrevia farmácia com PH! Só as Conferências Episcopais podem fazer adaptações relativas aos textos proclamados na Missa e, assim mesmo, respeitando o princípio de que os textos sejam escolhidos do Lecionário devidamente aprovado (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, 362). Então, se numa missa especial deseja-se escolher uma leitura diferente, pode-se fazê-lo, desde que ela seja escolhida dentre as que existem no Lecionário. Nada de tomar diretamente da Bíblia! A regra é clara e sem exceção: a Palavra de Deus, na Santa Missa, é sempre proclamada do Lecionário. (e) Não é conforme à tradição litúrgica da Igreja latina fazer procissão com a Bíblia! Isso nunca existiu na Igreja. A única procissão com a Palavra de Deus que é liturgicamente correta é o diácono ou um leitor entrar na procissão de entrada com o Evangeliário (O Livro dos Santos Evangelhos), que simboliza o próprio Cristo, presente em sua Palavra. Não se entra com o Lecionário em procissão! São abusos, ritos artificialmente inventados que não têm nenhum respaldo na tradição milenar da Igreja. Nunca se deve fazer um rito porque é bonito – isto não é critério litúrgico nem é criatividade; é pura e simples mutilação e desfiguração da liturgia, absolutamente figura de linguagem e literatura sem sentido, é enrolada e complicação! (f) É proibido e, portanto, totalmente errado fazer leitura encenada. A leitura é proclamada por um só leitor. É errado e abusivo um casal fazer a mesma leitura. É um leitor só para cada leitura. Também não se pode dividir as várias partes do Evangelho entre várias pessoas. Isso somente é permitido no Domingo de Ramos e na Sexta-feira Santa, para a proclamação da Paixão do Senhor. (g) O Salmo de meditação não pode em hipótese alguma, ser substituído por um cântico de meditação, nem mesmo que seja um cântico inspirado num salmo. Em outras palavras: deve-se cantar ou recitar o salmo como está no Lecionário! (h) Na tradição litúrgica da Igreja, proclamar as leituras não é função do presidente; assim, devem sempre os leigos proclamarem as leituras e o diácono, o Evangelho. Somente na falta deste é que o padre deve proclamá-lo. Contudo, se na assembléia não houver quem possa proclamar de modo claro e edificante, o próprio padre proclame as leituras e o Evangelho. Seminaristas ou leigos não devem proclamar o Evangelho.

Não se confunde proclamação com declamação. A declamação é uma recitação teatral do texto, sem a necessidade do livro.

(3) A homilia é preferencialmente feita do ambão. Pode também ser feita da cadeira. É costume que o padre faça a homilia em pé. O Bispo pode fazê-la sentado. O tema da homilia é sempre um comentário da Palavra de Deus, colocada no hoje da nossa vida, uma explicação dos mistérios da fé cristã ou sobre o tema da festa que se está celebrando. Nunca, em hipótese alguma, a homilia pode ser usada para fins alheios à sua natureza, como economia, esportes, cultura, turismo, meio ambiente, tecnologia, ciência, imóveis, empregos, concursos, cursos, trainee, estágio, Enem, vestibulares, testes, profissões, carreira, moda, beleza, saúde, família, gastronomia, culinária, comportamento, celebridades, sociedade, sexo, relacionamentos, temas relativos a empresas, companhias, corporações e sindicatos, como fazer propaganda política, dar recados velados a pessoas da comunidade, repreender o povo, falar de eleições ou temas profanos, falar de temas relativos a uma comunidade ou cidade, etc. Isso é reportagem e notícia de faz de conta! A homilia é parte integrante da Liturgia da Palavra e como tal deve ser respeitada em toda a sua dignidade. A homilia somente pode ser proferida por um ministro ordenado: Bispo, padre ou diácono. Por mais ninguém, não por um seminarista ou leigo! É abuso e indisciplina que religiosos que não sejam ministros ordenados (instituídos) façam homilia. A estes cabem apenas uma reflexão da Palavra. Se for necessário, por algum motivo, que alguém diga uma palavra de edificação, deve fazê-lo após a oração após a comunhão, antes dos avisos, mas nunca no momento reservado à homilia!

(4) Quando se canta ou se recita o Credo, que se tenha o cuidado de não lhe mudar a letra que está no missal. Não é um momento para meros cantos de fé ou cantos de creio, por mais belos que sejam!

(5) Quanto à oração dos fiéis, pode ser apresentada pelo diácono, pela equipe de liturgia ou por um ou mais fiéis, ou pelo comentarista. Pode ser feita do ambão ou da estante. Deve-se evitar deixar que se faça espontaneamente do meio do povo. Isso somente tem sentido quando a Santa Missa é celebrada com grupos pequenos. O correto é que a oração seja em forma de intenção apresentada ao povo, assim: “Por… pela…/ para que…/ rezemos ao Senhor”. Não é a melhor forma litúrgica apresentar a oração diretamente a Deus, assim: “Senhor,….. /nós vos pedimos/rogamos/clamamos/suplicamos/imploramos”. Nunca se deve substituir a oração dos fiéis por uma oração recitada por todos, pela ladainha de Nossa Senhora, pela ladainha de todos os santos ou uma outra qualquer. Os jornaizinhos, às vezes fazem isso; mas, já sabemos que tais jornaizinhos não têm o mínimo respeito pelas normas litúrgicas da Igreja. Fazem como querem, como se fossem os donos da Missa! Você não é Zé Maranhão nem Zé Paraíba, nem faltou as aulas de português, redação ou interpretação de textos, nem mesmo de redação oficial!

Missa é missa, curso é curso e academia de letras é academia de letras.

Reunião é reunião, encontro é encontro, palestra é palestra e grupo é grupo.

Pior é transformar a homilia em um cursinho, dando aulas de português, matemática, inglês, espanhol, história, geografia, biologia, física, química, literatura, arte, educação física e religião. 

(6) Como no Brasil toda missa tem muitas intenções, é melhor que a útlima oração seja a apresentação de tais intenções, começando pelos vivos e terminando pelos falecidos. Mas, é preciso escrever tais intenções de uma forma elegante, concisa e objetiva. Às vezes, tais intenções são apresentadas de um modo impossível!

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