Cuidados com o vocabulário, com a construção sintática e com a semântica, são essenciais para a elaboração de um texto que preze pela clareza textual.
Quando escrevemos um texto, muitos elementos linguísticos devem ser levados em consideração, entre eles a clareza textual. Mas será que você sabe o que é clareza textual?
A comunicação é o objetivo principal de todos os textos, sejam eles orais ou escritos, portanto, fazer-se compreender é indispensável para o bom funcionamento da linguagem. Não basta apresentar uma ortografia e sintaxe irrepreensíveis: é preciso que as ideias sejam expostas da maneira mais clara possível, especialmente quando o assunto é a linguagem não literária.
Se você precisa escrever uma redação, relatórios, e-mails e outros documentos comuns à rotina escolar ou profissional, você deve sempre se colocar no lugar do leitor e elaborar frases que privilegiem a objetividade e o uso denotativo da linguagem, além de evitar ambiguidades que dificultem a compreensão do texto. Para ajudá-lo nessa tarefa, o Alunos Online traz dez dicas sobre clareza textual que vão aperfeiçoar a elaboração de suas ideias e argumentos. Bons estudos!
.jpg)
Revisar um texto é uma ótima maneira de evitar que erros relacionados com a clareza textual cheguem até o leitor
Dez dicas sobre clareza textual
1) Tenha domínio sobre o assunto: Conhecer o tema é fundamental para a clareza textual, caso contrário você terá sérias dificuldades para desenvolver ideias e argumentos de maneira eficiente.
2) Prefira frases curtas: Frases longas podem ser verdadeiras armadilhas para a compreensão de um texto, por isso, priorize construções sintáticas coesas e concisas, pois elas são facilmente entendidas pelos leitores.
Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
3) Cuidado com a pontuação: Uma boa pontuação é imprescindível para a clareza textual. Sinais como vírgulas e pontos-finais organizam ideias e conferem sentido à mensagem.
4) Dê preferência à ordem direta: Na ordem direta, privilegia-se a seguinte construção sintática: sujeito + verbo + complemento. Evite inversões e intercalações: elas funcionam bem apenas nos textos literários.
5) Para ideias abstratas, utilize exemplos concretos: Quando precisamos discorrer sobre conceitos abstratos em textos informativos, o melhor a se fazer é tecer comparações com elementos concretos. Isso facilita o entendimento da mensagem, além de torná-la mais didática e eficiente.
6) Evite abreviaturas, regionalismos, gírias, linguagem da Internet ''internetês'' e siglas: elas podem ser um empecilho para a compreensão da mensagem, por isso, sempre que possível, evite-as.
7) Não repita ideias e argumentos: A redundância é prejudicial para o desenvolvimento dos argumentos. Fique atento também aos pleonasmos, vício de linguagem que compromete os sentidos de um texto.
Exemplos consagrados: elo de ligação, acabamento final, certeza absoluta, quantia exata, juntamente com, duas metades iguais, sintomas indicativos, prefeitura municipal, vereador da cidade, outra alternativa, detalhes minuciosos, anexo junto à carta, de sua livre escolha, todos foram unânimes, conviver junto, encarar de frente, multidão de pessoas, amanhecer o dia, criação nova, surpresa inesperada, gritar alto, goteira no teto, labaredas de fogo, despesas com gastos, exultar de alegria, ganhar de grátis, erário público, monopólio exclusivo, superávit positivo, déficit negativo, destaque excepcional, limite extremo, vandalismo criminoso, individualidade inigualável, palavra de honra, abertura inaugural, consenso geral, evidência concreta, protagonista principal, resultado do laudo, deferir favoravelmente, autocontrolar-se, repetir de novo, retornar de novo, seguir em frente, verdade verdadeira, escolha opcional, empréstimo temporário, modelo de referência, última versão definitiva, um mês de mensalidade, consumismo exagerado, pilar de sustentação, feminismo libertário, climatologia geográfica, hepatite do fígado, infarto do coração, hemorragia de sangue, consigo mesmo, mas mesmo assim, manter o mesmo, como por exemplo, há dois anos atrás, até mesmo, países do mundo, estrelas do céu, canja de galinha, demente mental, general do Exército, almirante da Marinha, brigadeiro da Aeronáutica, infiltrar-se para dentro, exportar para fora, importar para dentro, surdo do ouvido, cego dos olhos, regra geral, panorama geral, conclusão final, propriedade característica, baseado em fatos reais, sentidos pêsames, dupla de dois, trio de três, novidade inédita, comparecer pessoalmente, anexar junto, viver a vida, decapitar a cabeça, prever de antemão, arder em chamas, ver com os próprios olhos, pisar com os pés, sonhar um sonho, maluco da cabeça, pessoa humana, viúva do falecido, própria autobiografia, bilateral entre as partes, aprimorar para melhor, degenerar para pior, bonita caligrafia, etc.
8) Evite subjetivismos: A subjetividade é outro elemento que funciona bem apenas na linguagem literária. A objetividade é primordial para a clareza textual.
9) Evite palavras cujo significado você desconheça: Essa dica parece óbvia, mas muitas pessoas acabam empregando palavras de significado desconhecido apenas para rebuscar a linguagem ou para impressionar o leitor. Esse tipo de comportamento pode gerar efeitos de sentido diferentes do esperado. Prefira juiz a julgador ou órgão decisório, Supremo Tribunal Federal a pretório excelso, doutíssimo colegiado ou corte suprema, resposta a contestação, recurso a inconformação, advogado a causídico, patrono ou defensor, tribunal a pretório, colegiado ou corte, eleição a pleito, votar a sufragar, morte a falecimento ou óbito, réu a peticionário, demandante ou demandado. Da mesma forma, prefira voltar a regressar ou retornar, pretender a objetivar, intentar ou tencionar.
10) Saiba para quem você está escrevendo: Conhecer o público-alvo é fundamental na elaboração de um texto. Certas alusões e termos técnicos não são familiares a todos os tipos de leitores, por isso é importante que você elabore uma mensagem que seja linguisticamente viável para quem está lendo.
Dica: Evite a voz passiva, ela torna seu texto incoerente. Prefira a voz ativa, que tornará seu texto mais lógico. Evite adjetivos, advérbios, pronomes, conjunções, aumentativos, diminutivos e superlativos em excesso, eles tornam seu texto mais pesado, use-os com moderação e prefira verbos e substantivos.
Dê preferência para as orações coordenadas, modere orações subordinadas, para que o texto não fique exausto.
Para evitar o queísmo, substitua o pronome relativo que por um substantivo ou adjetivo, substitua a oração desenvolvida por uma reduzida de infinitivo, gerúndio ou particípio.
Evite estrangeirismos, se já existir forma aportuguesada ou equivalente em português. Use apenas se não possuir correspondente em português, ou se este for pouco usado.
Evite aliterações, rimas e qualquer figura de linguagem, pois a redação do Enem não é um texto poético, e sim dissertativo-argumentativo.
Evite palavras ofensivas, grosseiras ou gestos obscenos.
Evite repetir palavras, lance mão de pronomes pessoais, demonstrativos, relativos e indefinidos, numerais e advérbios pronominais, sinônimos, hiperônimos e hipônimos e da elipse.
Evite o uso de ponto de exclamação e reticências.
Evite clichês, ou seja, frases, imagens, construções ou combinações de palavras que se tornaram desgastadas pela repetição excessiva e perderam a força original.
Frases e locuções: abertura de contagem, abrir com chave de ouro, acertar os ponteiros, a duras penas, agarrar-se à certeza de, agradar a gregos e troianos, alto e bom som, ao apagar das luzes, aparar as arestas, apertar os cintos, à saciedade, a sete chaves, atear fogo às vestes, atingir em cheio, a toque de caixa, baixar a guarda, banco dos réus, bater em retirada, bola da vez, cair como uma bomba, cair como uma luva, cantar vitória, causar espécie, cavalo de batalha, chegar a um denominador comum, chover a cântaros, chover no molhado, chumbo grosso, colhido pelo ônibus, colocar um ponto final, com a rapidez de um raio, comédia de erros, como um raio, conjugar esforços, consternou profundamente, contabilizar as perdas, coroado de êxito, correr por fora, cortina de fumaça, crivar de balas, dar com os burros n'água, dar mão forte a, dar o último adeus, debelar as chamas, de cabo de esquadra, deitar raízes, deixar a desejar, de mão beijada, depois de um longo e tenebroso inverno, desbaratada a quadrilha, de vento em popa, dirimir dúvidas, discorrer sobre o tema, dispensa apresentações, dizer cobras e lagartos, divisor de águas, do Oiapoque ao Chuí, em compasso de espera, empanar o brilho, em ponto de bala, em sã consciência, encerrar com chave ou com fecho de ouro, ensaiar os primeiros passos, entreouvido em, esgoto a céu aberto, estourar ou explodir como uma bomba, faca de dois gumes, fazer as pazes com a vitória, fazer das tripas coração, fechar as cortinas, fechar com chave de ouro, fez o que pôde, ficar à deriva, fincar o pé, fugir da raia, hora da verdade, inserido no contexto, jogar a pá de cal, jogar as últimas esperanças, jogo de vida ou morte, lavrar um tento, lenda viva, leque de opções ou de alternativas, levar às barras dos tribunais, literalmente lotado ou tomado, lugar ao sol, mão de ferro, morrer de amores, morto prematuramente, na ordem do dia, nau sem rumo, página virada, palavra de ordem, parece que foi ontem, passar em brancas nuvens ou em branco, perder o bonde da história, perder um ponto precioso, perdidamente apaixonado, petição de miséria, poder de fogo, pomo da discórdia, pôr a casa em ordem, pôr a mão na massa, pôr as barbas de molho, pôr as cartas na mesa, preencher uma lacuna, prendas domésticas, procurar chifre em cabeça de cavalo, propriamente dito, reencontrar o seu futebol, requintes de crueldade, respirar aliviado, reta final, sagrar-se campeão, saraivada de golpes, sentar-se no banco dos réus, tábua de salvação, tecer comentários ou considerações, ter boas razões para, tirar do bolso do colete, tirar o cavalo da chuva, tiro de misericórdia, traído pela emoção, trazer à tona, treinar forte, trilar o apito, trocar farpas, via de regra, vias de fato, vida de cachorro e voltar à estaca zero.
Adjetivos e substantivos: agradável surpresa, água cristalina, amarga decepção, briosa corporação, calor escaldante ou senegalesco, calorosa recepção, carreira meteórica, cartada decisiva, chuvas torrenciais, corpo escultural, crítica construtiva, dama virtuosa, desabalada carreira, doce esperança, doença insidiosa, duras críticas, eminente deputado ou senador, ente querido, escoriações generalizadas, esposa dedicada, ferros retorcidos, filho exemplar, fortuna incalculável, gesto tresloucado, grata satisfação ou surpresa, ilustre estirpe, ilustre professor, ilustre visitante, impiedosa goleada, infausto acontecimento, inflação galopante, inteiro dispor, intriga soez, jogador voluntarioso, laços indissolúveis, lamentável equívoco, lance duvidoso, lauto banquete, manobra audaciosa, mera coincidência, obra faraônica, pai extremoso, parcos conhecimentos, pavoroso incêndio ou desastre, perda irreparável, pertinaz doença, poeta inspirado, prestigioso órgão, profundas raízes, profundo silêncio, proibição terminante, rápidas pinceladas, recônditos rincões, relevantes serviços, rigoroso inquérito, semblante carregado, silêncio sepulcral ou tumular, singela homenagem, sol escaldante, sólidas tradições, sólidos conhecimentos, sonho dourado, subida íngreme, suculenta feijoada, tarefa hercúlea, tradicionais estirpes, trágica ocorrência, tumulto generalizado, último adeus, vaias estrepitosas, valoroso soldado, vetusto casarão, violento incêndio e viúva inconsolável.
As imagens. As pessoas, cidades e coisas têm nomes. Criar imagens, apelidos ou definições que os substituam só contribui para a disseminação de uma série de lugares-comuns que o jornal, por sobriedade e bom senso, tem a obrigação de evitar. Jamais os utilize como opção para as palavras que estão entre parênteses, por serem literários:
Garoto do Parque (Rivelino), Galinho de Quintino (Zico), Canhotinha de Ouro (Gerson), Cidade Luz (Paris), Cidade Maravilhosa (Rio), esporte bretão ou esporte das multidões (futebol), tríduo de Momo (carnaval), precioso líquido (água), astro-rei (Sol), rainha da noite (Lua), soldado do fogo (bombeiro), próprio da municipalidade (Pacaembu), o maior estádio do mundo (Maracanã), enlace matrimonial (casamento), data magna da Cristandade (Natal), tapete verde (gramado), balão de couro (bola), instrumento de trabalho (bandeirinha), tiro de quina (escanteio), profissional do volante (motorista), etc.
4 - As ideias. Não são apenas as palavras, frases, construções ou duplas que se reproduzem ao infinito nos textos, mas também as ideias ou formas de abrir as matérias. Por isso, desconfie sempre de imagens "diferentes" que surjam prontas na sua cabeça e tente lembrar-se se não passam de recordações de outras que você já leu antes. A seguir, algumas dessas fórmulas prontas que aparecem com frequência nos textos:
a) Sonho-pesadelo. A oposição sonho-pesadelo é uma delas e veja exemplos reais de como ela já foi empregada em todo tipo de reportagem ou notícia, principalmente nos títulos e leads: Casa própria, o sonho que vira pesadelo / Sonho de carro vira pesadelo nos consórcios / Classe média: acaba o sonho e começa mais um longo pesadelo / Aposentadoria, o sonho que vira pesadelo a cada fim de mês / Ser o próprio patrão, outro sonho que virou pesadelo / Sonho palmeirense do tri vira pesadelo / O sonho de Israel virou pesadelo.
b) O D, P ou Z da DPZ. Repare quantas vezes você já leu: Duailibi, o D da DPZ, ou Petit, o P da DPZ, ou Zaragoza, o Z da DPZ. Lembre-se, então: a forma perdeu toda e qualquer originalidade.
c) A novela. Pense o mesmo com relação à palavra novela no sentido figurado. Use novela apenas no sentido denotativo, como referência ao à obra literária ou à obra audiovisual, telenovela ou radionovela.
Ou você já não viu n vezes títulos ou textos como: Encerrada a novela da venda da TV Jaraguá. / Chrysler no Brasil, longa novela que pode ter um final feliz. / Termina a novela e Juca vai para a Espanha. / Estreia de Rossana vira novela.
d) Mestre Aurélio. Outra forma ultrabatida é escrever sobre um determinado tema e começar o texto pela definição do dicionário, em geral precedida de: "Segundo mestre Aurélio". E segue-se a explicação: brega é isto, corrupção é aquilo, leptospirose significa..., estrambótico quer dizer...
e) Se estivesse vivo... Além de óbvia, esta construção constitui outro lugar-comum a evitar. E, por mais incrível que pareça, sua frequência no noticiário chega a preocupar: Se estivesse vivo, João de Almeida estaria completando hoje 90 anos. E leva a absurdos como: Se estivesse vivo, Ivan dos Santos faria hoje 400 anos.
f) Não poderia imaginar... Outro chavão, em geral introduzido por quando: Quando fez tal coisa, fulano não poderia imaginar que... / Quando recorreu ao Judiciário, o delegado tal não poderia imaginar que a sentença final lhe seria desfavorável.
g) O fantasma. Mais uma imagem repetitiva de que convém fugir. Em geral, alguma coisa traz de volta o fantasma de outra: Desemprego traz de volta o fantasma da recessão de 83 / Corrida preços-salários traz de volta o fantasma da hiperinflação / Decisão revive fantasma do AI-5 / Empresariado teme a volta do fantasma do grevismo.
h) Negócio da China. Já se abusou da imagem negócio da China para tornar mais "atraentes" títulos sobre a vinda do Brasil de missões daquele país: Missão traz negócio da China ao Brasil / Preços são verdadeiros negócios da China / Negócio da China chega ao sertão do Nordeste / Empresários viajam em busca de negócios da China.
i) Não convidem para a mesma mesa ou reunião. Perdeu todo o sabor de novidade essa recomendação: Não convidem para a mesma mesa a cantora e seu ex-empresário. / Não convidem para a mesma reunião o ministro X e o governador Y.
j) Vem aí. Diga-se o mesmo do bordão vem aí para qualquer notícia referente ao animador Sílvio Santos (Sílvio Santos vem aí para prefeito, por exemplo).
k) Do cardápio fez parte. Outra forma que o uso exagerado vulgarizou é esta: noticia-se um almoço entre duas ou mais pessoas e segue-se a informação de que do cardápio fez parte a sucessão presidencial, a fusão da empresa X com a Y ou qualquer outro assunto.
l) Também é cultura. Mais uma imagem empregada à exaustão: Esporte também é cultura / Verde também é cultura / Ilusão também é cultura / Quadrinho também é cultura / Ecologia também é cultura. Enfim, tudo o que se quiser também é cultura.
m) Quente-frio. Trocadilho que o bom senso aconselha a banir do noticiário: Corinthians esquenta o verão de Caraguatatuba / Roupas de frio: preços quentes / Liquidações de inverno aquecem vendas / Preços de roupas de frio podem ser de arrepiar / Inverno aquece lazer na capital / Crise esfria comércio de agasalhos / Produtos de verão chegam com preços escaldantes.
Fonte: Manual de Redação e Estilo do Estadão